quarta-feira, 21 de junho de 2017

GUARDAREI O TEU OLHAR




Foi numa tarde de verão, sem sol, em um pedaço de sonho quebrado, que ela apareceu virtuosamente, para amenizar minhas chagas omissas.

Num canto de meu perdimento, onde expiava minhas dores, veio aliviar as feridas nevrálgicas, manifestadas em meu cerne impuro.

Em meio a tormentas que me habitavam, enfrentadas conspurcadamente, não percebi, entre seus afagos perenes, que me tornava um doador de frágeis ilusões.

Alheio, sob seu olhar repleto de candura, tive sede insaciável por seu corpo sensual, e minhas sombras ansiaram sua alma alva em infame violação de sua inocência.

Nobre mulher, que me ressuscitaste a arte do bem-querer, e te arriscaste, por amor, a adentrar meus mistérios, após o deleite, ainda com o incenso emanado de nossos néctares, submergem meus inimigos intrínsecos para conspurcar nosso reino.

E tu não deves estar aqui na hora de minhas alucinações escabrosas, pois a ti seriam postos jugos severos e condenações descabidas.

Quando chegar a noite fria, a solidão e a angústia me pertencerão, e os fantasmas meus se me inflamarão em iras e angústias devastadoras.

Por isso, parte imediatamente para longe de minhas lentas agonias, que a ti pertence a paz merecida das esperanças matutinas, e os prados onde não te sejam subtraídos cândidos sonhos.

E quando encontrares outros braços que te envolvam em núpcias, apenas te lembres que te amei como jamais haverei de amar novamente, mas que a mim pertence maior dor pela compreensão de que, das ruínas de mim mesmo, ser-te-ia um carrasco impiedoso.

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