domingo, 6 de outubro de 2019

O APAGAMENTO ESTÁ FORA OU DENTRO DA CAVERNA?


E se fosse mesmo
possível deixarmos a caverna,
como no mito de Platão?

E se, em vez de
olhar de dentro da caverna
para reinaugurar fora,

na verdade
viemos de fora e nos aprisionamos
na imensidade promovida

pelos desenhos,
pelas ilusões e pelas idealizações
que fizemos em suas paredes
dela?

AMOR, LIBERDADE E DOR!


A liberdade
é uma imensa prisão para nós,
aves perdidas de recônditos
sonhos,

assim como
a vaidade é nosso maior clamor,
como pseudodeuses de asas, de pedras
e de mármores,

com nossas manhãs
ungidas de sonhos e de amores
que, na escuridão
das tardes,

já começam
a se transformarem
em dor!

SEM MAIS


Borboletas fulvas
e andorinhas de colares brancos,
depois que abdiquei das esplendes imagens
e dos indecifráveis enigmas
das estradas

e me aceitei como marítimo
estrangeiro ao deserto;
dizei-me, com suas bocas-flauta
e com seus sonhos-náufragos,

para que me serviriam
vossos graciosos voos e vossas esplêndidas cores,
se ando vendo apenas e tão somente
inércias em preto e branco?

SOBRE O AMOR E O DESEJO


Desejo: chama indomável
à mente, que se escorre pelos rios internos,
incandescendo relvas, montes
e grutas eivas,

fazendo com que,
na violência das extáticas eructações finais,
se derramem caldos autofágicos
pelos secos leitos;

amor: a mentira mais bem contada
para satisfazer o desejo.

ENTRE O VOO E A QUEDA


Em certas noites,
ela chegava tentando esboçar
um sorriso amarelo como quem tenta levantar
mil toneladas,

acomodava-se em silêncio
e, de repente, começava a manusear
o verbo volátil como um hábil malabarista
de adagas afiadas;

e eu, espremido
entre a tentativa de manutenção da calma
e a entenebrecida vontade de reagir
com o ego em chamas.

Sim, em certas noites
– prolíficas em chuvas e sombras –
não parecia ser ela que estava ali na minha frente,
com o siso do ego inflamado.

Nestas noites,
dava para perceber
a dolorosa confusão que lhe havia
entre paradoxais labirintos
da mente,

como que perdida
entre sinuosas trilhas de lava-pés
tendo que decidir, sufocada e angustiadamente,
que caminho tomar com relação
a nós dois,

que nos pendulávamos
incautos entre o voo e a queda,
o amor e a cólera, a loucura e a sanidade,
a vida e a morte, enfim.

Sim, dava até para sentir
os gritos de dor como que a pedir socorro,
ao grande sonho de nuvens brancas
que se iam tingindo de sombras
nossas.

A VIDA JAMAIS IRÁ SUPERAR A MORTE


... no tempo,
os feitos não se medem
em suas extensões,

nele podem
ser risíveis, pífios, desastrosos
o que se faça aos dias
e às noites cardeais;

não há flores
que possam se redimir,
dependendo da ferida aberta,
a ago que foi morto,

não há
perdão que se possa ser
pedido por um templo que se
deixa tombar por fome:

eu não tenho
elo com anjos, nem tendências
prinipescas,

eu mostro,
escancaro, de mim e de todos,
o que se pode fazer e, apegando-se
a sublimes fés e conceitos,
não é feito!

O TEMPO E SUAS EXTENSÕES


... no tempo,
os feitos não se medem
em suas extensões,

nele podem
ser risíveis, pífios, desastrosos
o que se faça aos dias
e às noites cardeais;

não há flores
que possam se redimir,
dependendo da ferida aberta,
a ago que foi morto,

não há
perdão que se possa ser
pedido por um templo que se
deixa tombar por fome:

eu não tenho
elo com anjos, nem tendências
prinipescas,

eu mostro,
escancaro, de mim e de todos,
o que se pode fazer e, apegando-se
a sublimes fés e conceitos,
não é feito!

O MUNDO É MAU


... o que há
de mais macabro no mundo
não são os pagãos, os cães
ou os punheteiros
de plantão,

como costumam
dizer e afirmar os sublimes
anjos:

o pior de tudo
é o uso de eficazes máscaras,
costuradas a apalavradas
luzes,

com o intento
de angariar benefícios, poderes,
dinheiros ou genitálias
em algum leito!

RESIGNAÇÃO


Eu não sumi ainda.
Eu não  morri ainda,
Eu te amo ainda
e meu Senhor está apenas esperando minha morte
para completarmos nosso amor
eterno!

Vento, chuva e tempestades constantes. Permeiam-me entre luzes passageiras. Luzes que só existem em contraposições e sobreposições a sombras, onde se fazem, silente e escondidamente, as descargar sujas do ego.

Quem não tem cu que aponte o dedo, pois muitos ditos pelas bocas são mais imundos do que as excreções das nádegas de quem profere discursos, sem pensar nas consequências, de cima de seus montes.

Relampejares invisíveis aos soberbos, pipocam pelas favelas, regiões e países pobres. O templo que se alimenta de bostas de camelo na África não sabe o que é um brinquedo, enquanto menestréis, após assistirem a belos espetáculos brincam de meter em leitos.

Eu digo que o pecado falado é uma besteira. Pior é o silêncio covarde, de joelhos perante um altar com orações repetidas e uma vela acesa. Há alucinações inconscientes que ferem o mais sublime da alma que Deus nos deu. E tais alucinações não se dão nas sombras, mas no reflexo das abnormais retinas acesas.

Sons e discursos repetidos não curam chagas, dores, fomes e tristezas. Metidas escondidas aos leitos, enquanto se pregam moralidades e éticas não justificam nada, além dos próprios pesos.

Temos uma única vida, uma única oportunidade de assistirmos à lume ignorância e aos ensejos mais nefastos do ser.

Escolher é nosso maior dom. Escolher para si mesmo e apenas observar a amargura e o deserto dos outros, sem nada fazer é nosso maior erro. E não são orações que vão mudar alguma coisa, pois Deus nos passou tal direito.

Nada é providencial. Nada pode ser jogado, como inocentes fôssemos, às costas do destino. Não há inocência no ser, para que ele peça perdão pelas inconsequentes escolhas que faça. Perdões não podem ser concedidos, apenas por pedidos, a quem se farta à mesa, deixando de fome a irmãos morrer.

Já ouvi um monte de opiniões. Já convivi com quem pensa estar bem com suas repetidas orações. Já conheci os charlatões e os cães, os que chamam de putos e de putas como se fossem frutos de maldições.

E digo que o mais potente atentado contra os ensinamentos de Deus e o pior escarro e pessoa disparados às costas dos mais humildes e fracos são feito pelos terrestres anjos!

EU AINDA SONHO CONTIGO, ANA!


Eu não sumi ainda, Ana,
Eu não morri ainda,
Eu te amo ainda

e meu Senhor
está apenas esperando minha morte
para completarmos nosso amor
eterno!

MEU ETERNO AMOR


...meu eterno amor
é a única coisa que não morrerá
neste mundo,

pois, porquanto
eu viver
sempre te carregarei sobre
meus ombros!

SECRETOS ENCONTROS NOTURNOS!


... ninguém
gostaria, nem ousaria,
observar os amores,

os desejos,
as fantasias, as profanidades
e os profundos

que, de dentro
de nós,

às frias
e escuras e ofuscadas madrugadas,
pronunciávamo-nos!

OBSESSIVAMENTE!


Tenho sofrido
e chorado por ti,
em tua eterna ausência
peregrina,

como aquele menino que,
imaginando ter achado,
em voo esplêndido,
seu grande amor,

tornou-se
um náufrago solitário e pesado
na calçada!

AOS 48!


Não sou poeta,
não sou um ser angelical,
não sou feito de raios de sol,

nem sou um bajulador
cara de pau que, com o verbo,
vai atrás de uma saia:

não tenho mais castidade,
não navego mais fundas e sujas águas,
nem pretendo frequentar céus
azulados,

não mais fico me masturbando
no raso da madruga, nem ao sinal
de teu neon ligado no imaginário
quarto:

mas é bom não brincar
comigo, porque ainda padeço
de minha insana e rasa
humanidade!

O SOPRO DE UM CORAÇÃO CANSADO!


Naquele tempo,
não deixávamos nada secar,
não nos firmávamos em desertos
desabitados,

não decepcionávamos
nem nossos desejos nem nossos
amores;

naquele tempo
nós nos amávamos, mesmo
quando chovia e sentíamos o cheiro
do barro.

Sim, naquele tempo
em que juntos por este mundo
caminhávamos:

agora sou nobody, antes
eu sabia, agora sem tu do meu lado
eu não sei mais
existir!

PASSAGENS


Sobre o passado,
que já está morto, amamo-nos
entre sonhos e chãos,
por alguns longos
anos;

sobre o porvir,
que é sempre incerto,
não sabemos se iremos durar dois dias
ou algumas dezenas
de anos.

Não achas, pois,
que nos convém evitar
o alagamento das águas e o vago
caminho das sombras,

que outrora
nos levaram às beiras navalhadas
dos mortais precipícios?

EGO,SOBERBIA E VAVIDADE


que se acham mais inteligentes,
os mais estudados,
filosóficos ou poéticos

costumam
distanciar-se bastante,
por pungente imperiosidade de seus egos,
dos pensamentos comuns,
das crenças comuns
e das superficialidades comuns,
enfim;

não obstante,
nunca deixam de visitar tais lugares
para comerem saladas servidas
por mariposas e tentilhões,

ou para
defecarem todo tipo de merda
com seus imundos rabos.

OUTONO NEGRO


Numa morna noite outonal,
acordei com o barulho da chuva a cair
como algo que fere as almas grávidas.

Quando saí para ver o que perturbava
a silente paz da madrugada,
percebi que não eram gotas d’água,
mas lágrimas das folhas abandonadas.

Ao atentar-me aos pulsos do vento,
ouvi um movimento de asas
a ruflarem em itinerário de liberdade,
esgrimindo essências nobres,
como um último verso machucado,
entre as brumas orvalhadas.

Que tola é a flor das quimeras!
Enquanto saiu para amar
nos rasos precipícios do mar,
aos vazios frios do inverno
dilacerado fui a versejar.

PAI, PERDOA-NOS, SOMOS SAPIENS


... depois que
os verões se enxugam
e os invernos se enrugam aos caminhos
e descaminhos

(já exaustivamente
desgastados por tantos voos,
quedas e esfregaços),

que virá após
(e depois de após) senão inícios e reinícios
de mesmos ciclos

tão cheios de vida,
tão cheios de equívocos,
tão cheios de morte?

Por isso, Pai,
mais que nos perdoar, é preciso fazê-lo
(embora doloroso) sempre
e incondicionalmente,

porque o que
mais fazemos é nos colocar
à imanente beira
do erro.

sábado, 7 de setembro de 2019

FOGO E CAOS


... que somos,
senão amontoados de átomos
em abnormidades variantes
e sencientes,

e que sobre nós seja,
senão violações de casualidades,
possibilidades e silêncios
inocentes?

A BELÍSSIMA PROSTÍBULA!


Nobres palavras
ressoaram de teus lábios,
sobretudo quando te postavas
perante manipuláveis
espelhos;

não obstante,
vi escorrendo de teus olhos
– que te condenaram –
mentiras em brilhos
secos.

E não é por isso
que eu deveria ter te julgado
os enredos dos verbos
e as espuriedades
das atuações

– até porque bem sei
que não é possível ao sapiens
a sublimidade plena
que ele almeja –;

mas,
se te preguei à cruz,
foi somente porque atacaste
aquele que, como tu, tem incontável
e vil pequenez
de espírito.

SEMPRE PRONTOS


Escondidas
as sombras das asas
e dos corações

e lavados
os leites e as nódoas das genitálias
e das mãos,

os pássaros
sapiens colocam-se
(tersamente)

sempre prontos
e limpos para as próximas
encenações.

FENDAS NUAS


... e todos os toques
e esfregaços excitados, e todos os abraços
e beijos molhados, e todos os leites
e lágrimas derramados,

e todas as dádivas
de amor sublimado, e todas as luminescências
regozijadas, e todas as demais perjuras
feitas com o verbo volátil;

tudo, tudo, tudo
saiu e, ao fim, retornou do mesmo ponto:
suas almas esquálidas
e esvaziadas.

VERDES CAMPOS TÚRGIDOS


... o que faz
a sublimidade dos voos
são as invisíveis
asas:

o problema
é que sempre nos imaginamos
nos haver naqueles sem,
contudo,

tomarmos
as medidas certas e concretas
para cuidar bem
destas.

RENOVAR


... é tempo
de se apagarem (definitivamente)
as luminescências
artificiais,

para tentarmos
nos renascer, separadamente,
em uma nova e sublime
imensidão.

ALÉM DE TARDE PERDIDA DE UM DOMINGO


... a mente
entorpecida pela cerveja,
pelo vinho e (das coisas) pela
incompreensão;

o corpo
encurvado, já quase prostrado,
ao ressequido
chão;

ao cd-player da sala,
Tchaikovsky toca algo que, há muito,
já não distingo muito
bem;

a alma
vigora antes de tudo isso
– lidando com sonhos, esperanças
e quedas constantes –

ao mesmo tempo
em que sempre se perde em meio
aos tantos e longos
desvãos.

REGRESSAR À NORMALIDADE


... da imensidade
esquecida, do fogo quase apagado,
dessa quase inapagável
rotina maldita.

Sim, regressar
– como as magníficas ondas –
ao grandes e vivos
mares;

calmamente,
percorrendo todo o mapa
com suas flores
e pedras:

e somente aí,
neste ponto ter a certeza absoluta para
– em um sincero “eu te amo” –
se declarar.

A MORTE DO MENSAGEIRO!


Eu voltei no tempo
e no espaço para te admiriar
puerilmente,

havia em ti
muita luz misturada
com sombras:

tu uivaste
e choveste como nunca, querendo-me
como teu anjo menino,

tua mente
adornava meus pensamentos
e minhas ilusões mais extáticas
e efervecentes.

Com minha resistência,
choveste mais e fizeste colidir-me,
com tuas mãos e com tuas loucuras
uma seringa com veneno medido
à conta para não me matar,
como dizias:

silêncio,
solidão
e dores de parto cruciantes,

vieram com o veneno
que aplicaste em minha carne,
em minhas veias e em minha alma
suicida!

E TODOS SEGUEM, SILENTES, COM SEUS SEGREDOS!


As luzes neon,
as maiores mentiras já pregadas
pelas retinas sapiens;

aos espelhos,
as mais belas, sublimes e leais
atuações ao membembe
espetáculo sapiens;

sob as nuvens
que acima passam despercebidas,
procissões e mais procissões de sapiens
pregando o bem e a boa
vontade:

aos lábios, porém,
não se ouve nenhuma confissão
de seus piores, mais aterradores, mais libidinosos
e mais hediondos segredos!

NÃO FUGIMOS DAS PEDRAS E NEM DAS CHUVAS


... para amar, como
concordo com Drumond,
em não devendo ser verbo transitivo,

deve-se ser por entre
os jardins, as flores e os espilhos que
elas contém aos caules
escondidos,

aos céus zuis,
às areias movediças e aos pantanosos
vales onde os fantasmas se abrigam
e se escondem,

na cama,
como na fama, da flama ou na lama
onde possa aparecer todo e qualquer delírio
ou desafio ao dois cúmplices
amantes!