quarta-feira, 15 de maio de 2019

A BELÍSSIMA PROSTÍBULA!


Nobres palavras
ressoaram de teus lábios,
sobretudo quando te postavas
perante manipuláveis
espelhos;

não obstante,
vi escorrendo de teus olhos
– que te condenaram –
mentiras em brilhos
secos.

E não é por isso
que eu deveria ter te julgado
os enredos dos verbos
e as espuriedades
das atuações

– até porque bem sei
que não é possível ao sapiens
a sublimidade plena
que ele almeja –;

mas,
se te preguei à cruz,
foi somente porque atacaste
aquele que, como tu, tem incontável
e vil pequenez
de espírito.

SEMPRE PRONTOS


Escondidas
as sombras das asas
e dos corações

e lavados
os leites e as nódoas das genitálias
e das mãos,

os pássaros
sapiens colocam-se
(tersamente)

sempre prontos
e limpos para as próximas
encenações.

FENDAS NUAS


... e todos os toques
e esfregaços excitados, e todos os abraços
e beijos molhados, e todos os leites
e lágrimas derramados,

e todas as dádivas
de amor sublimado, e todas as luminescências
regozijadas, e todas as demais perjuras
feitas com o verbo volátil;

tudo, tudo, tudo
saiu e, ao fim, retornou do mesmo ponto:
suas almas esquálidas
e esvaziadas.

VERDES CAMPOS TÚRGIDOS


... o que faz
a sublimidade dos voos
são as invisíveis
asas:

o problema
é que sempre nos imaginamos
nos haver naqueles sem,
contudo,

tomarmos
as medidas certas e concretas
para cuidar bem
destas.

RENOVAR


... é tempo
de se apagarem (definitivamente)
as luminescências
artificiais,

para tentarmos
nos renascer, separadamente,
em uma nova e sublime
imensidão.

ALÉM DE TARDE PERDIDA DE UMA DOMINGO


... a mente
entorpecida pela cerveja,
pelo vinho e (das coisas) pela
incompreensão;

o corpo
encurvado, já quase prostrado,
ao ressequido
chão;

ao cd-player da sala,
Tchaikovsky toca algo que, há muito,
já não distingo muito
bem;

a alma
vigora antes de tudo isso
– lidando com sonhos, esperanças
e quedas constantes –

ao mesmo tempo
em que sempre se perde em meio
aos tantos e longos
desvãos.

REGRESSAR À NORMALIDADE


... da imensidade
esquecida, do fogo quase apagado,
dessa quase inapagável
rotina maldita.

Sim, regressar
– como as magníficas ondas –
ao grandes e vivos
mares;

calmamente,
percorrendo todo o mapa
com suas flores
e pedras:

e somente aí,
neste ponto ter a certeza absoluta para
– em um sincero “eu te amo” –
se declarar.

A MORTE DO MENSAGEIRO!


Eu voltei no tempo
e no espaço para te admiriar
puerilmente,

havia em ti
muita luz misturada
com sombras:

tu uivaste
e choveste como nunca, querendo-me
como teu anjo menino,

tua mente
adornava meus pensamentos
e minhas ilusões mais extáticas
e efervecentes.

Com minha resistência,
choveste mais e fizeste colidir-me,
com tuas mãos e com tuas loucuras
uma seringa com veneno medido
à conta para não me matar,
como dizias:

silêncio,
solidão
e dores de parto cruciantes,

vieram com o veneno
que aplicaste em minha carne,
em minhas veias e em minha alma
suicida!

E TODOS SEGUEM, SILENTES, COM SEUS SEGREDOS!


As luzes neon,
as maiores mentiras já pregadas
pelas retinas sapiens;

aos espelhos,
as mais belas, sublimes e leais
atuações ao membembe
espetáculo sapiens;

sob as nuvens
que acima passam despercebidas,
procissões e mais procissões de sapiens
pregando o bem e a boa
vontade:

aos lábios, porém,
não se ouve nenhuma confissão
de seus piores, mais aterradores, mais libidinosos
e mais hediondos segredos!

NÃO FUGIMOS DAS PEDRAS E NEM DAS CHUVAS


... para amar, como
concordo com Drumond,
em não devendo ser verbo transitivo,

deve-se ser por entre
os jardins, as flores e os espilhos que
elas contém aos caules
escondidos,

aos céus zuis,
às areias movediças e aos pantanosos
vales onde os fantasmas se abrigam
e se escondem,

na cama,
como na fama, da flama ou na lama
onde possa aparecer todo e qualquer delírio
ou desafio ao dois cúmplices
amantes!

O QUE É REALMENTE ESTE TAL DE AMOR?


... concordo
com Friedrish Nietzsche,
quando ele diz
que

“O que se
faz por amor, está
acima do bem
e do mal”;

não concordo,
entretanto com as dores
que provocam com ciúmes, possessividades
e agressividades

por vãs
elucubrações sobre o que
faz ou deixa de fazer
o ser amado.

SOBRE OS CAMPOS DESOLADOS


... quase
às vésperas de minha partida,
liliths e nuvens

picaram
a mula e foram embora
julgando-me como se fossem
deuses:

até que
chegou alguém andando
por entre meus
despojos,

que fez,
com sua simplicidade, ternura e luz,
com que ainda me nascesse
uma última flor
incendiária!

quarta-feira, 8 de maio de 2019

FOGO E CAOS


... que somos,
senão amontoados de átomos
em abnormidades variantes
e sencientes,

e que sobre nós seja,
senão violações de casualidades,
possibilidades e silêncios
inocentes?

PAI, PERDOA-NOS, SOMOS SAPIENS


... depois que
os verões se enxugam
e os invernos se enrugam aos caminhos
e descaminhos

(já exaustivamente
desgastados por tantos voos,
quedas e esfregaços),

que virá após
(e depois de após) senão inícios e reinícios
de mesmos ciclos

tão cheios de vida,
tão cheios de equívocos,
tão cheios de morte?

Por isso, Pai,
mais que nos perdoar, é preciso fazê-lo
(embora doloroso) sempre
e incondicionalmente,

porque o que
mais fazemos é nos colocar
à imanente beira
do erro.