quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

LEVE É A LÂMINA AUSENTE



No dia em que
minhas palavras cessarem,
talvez consiga ser teu melhor amigo
ou teu melhor amante,

com as ausências
de meus predicamentos salivados
e perfilhados sobre teus
joios e trigos.

Sim, mas somente
no dia em que minhas palavras
não mais forem chuvas
de pedras e iras,


mesmo quando
disfarçadas com cheiros e sabores

e brancos sonhos e sublimes
fantasias.

Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)

EMBOTADOS




Será que os verdadeiros
deuses-sapiens sabem realmente
sobre a tão incauta e grande
tormenta,

que se lhe assenta
no porvir de todas as vezes que tentam
revoar com suas asas
inválidas?

Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)

AQUELE CANTO ESQUECIDO DO UNIVERSO



... sim, já houve
nuvens nas mãos do pequeno
menino;

mas, quando ele
cresceu e continuou ousando
sonhar com flores que enfeitavam
rios e pedras,

logo percebeu
que colecionar destroços e vazios
é que era sua inalienável
e angustiante sina.


Péricles Alves de Oliveira

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

SEMENTES E CORRENTES




Por que toda vez
que nos iludimos com uma esplende
quimera ao mar,

(ou ao monte,
ou às asas de um camelo,
ou além deles);

algumas nuvens,
ou luas, ou flores no bloqueiam
os caminhos

com suas ternas
alvuras superficiais e com suas inebriantes
e venenosas fragrâncias?

Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)

SOBRE A CRÍTICA PURISTA



Estou de saco cheio
destes filhas da puta desses puristas
tonitruantes

andarem
a regozijar e extruir suas faustas
tremeluzências por aí;

enquanto
sabem sim (como eu),
e muito bem,

que os cordeirinhos
falantes (como eles) são os que
mais sonham em ser
vorazes lobos!

Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)

TUDO E NADA




Mito:
um tudo que nada é.

Ídolo:
um tudo que nada é.

Deus:
um tudo que nada é.

Eu:
um nada que tudo pensa ser,

em mitos, ídolos, deuses
e em suas ilusões, fantasias e estórias

criadas para meu absurdo
e espúrio aprazer.


Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)

DE PEDRA



Quem sabe agora
aquele anjo possa voar puramente,
como sempre me regozijou
ao infértil deserto;

quem sabe agora
ele encontre algum velho passarinho
que não seja doentiamente
pueril),

em cujas asas perdidas
possa fazer algum (razoavelmente)
seguro ninho?


Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)

BREVIÁRIO DO AMOR



Vou dizer (do deserto)
o que é que chamam de amar,
à vã e vil jornada:

é essa coisa meio
estranha, em que se fazem oferendas
de sonhos e de fantasias
fantásticas,

em que se fabricam
constelações e infinitos dos nadas,
e em que, de tempos em tempos, a tudo
se arruína com voláteis
palavras.

Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

A LUZ DE TEU PORÃO





Não, não, não!

Não me te enganes
mais:

com essas alvas vestes
estelares

e com esse poderoso verbo
em aquarela,

podes realmente dilacerar
sóis e girassóis.



  • Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)

ESTRANHAS TEXTURAS




... que amor é esse
em que se pintam nuvens
e medos sob o clarão
da lua,

enquanto se desfrutam
os gostos líquidos das carnes
e os devaneios rígidos
dos sonhos,

servidos em cálices
de músicas, poesias e palavras;
e mais músicas, poesias
e palavras

(voláteis)?


Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

SEMELHANTES EM VÍCERAS


Tu, como eu,
somos vórtices cegos
em rupestres devaneios,

imaginando

que podemos ser aves-mito
a voar sublimemente

por rotas e sonhos

sem destino.

Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)

RESQUÍCIOS



Às vezes,
chega a me surpreender
a maneira como és,

e como te lidas

(tão calma e eficazmente)
com as coisas,

a clareares entradas

e saídas com suas lamparinas
de néon,

enquanto te extruis

escondida por entre banheiros, bueiros
e bambuzeiros),

deixando resíduos

quase invisíveis aos chãos,
sabias, querida?

Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)

EM UM AMOR HUMANO



Se nos é impossível
trancar a palavra, e muito menos usar
o ponto final; então,
que tudo

(absurdas fantasias,

concupiscências vadias, incontidas
vesanias e até a singelas
poesias)

se nos escorra,

de maneira natural, ao alento
e ao relento alheio
das coisas.

Sim, de modo

bem humana e espuriamente
natural, é claro.

Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)

ESTRANHAS INSPIRAÇÕES



Um sol amanhece
na janela,

como que

a me convidar para escrever
alguma bela poesia;

e eu, desertificado,

só ando conseguindo ver
inspiração mesmo

é às sombras das cosias

que ele alumia.

Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)

IMAGEM SUSPEITA



A imensidade
de tuas ilusões, de tuas fantasias
e de tuas vesanias:

“menos”.


O incomensurável

poder de resistires ao tempo, à monotonia
e à seara vazia:

“menos”.


O fluorescente

infinito, onde puramente te voas
com asas inválidas:

“menos”.


Tuas flores, tuas nuvens,

tuas luzes (teu eterno e perjurado amor)
a me cegarem:

“menos”.


Minhas chuvas a

(quem sabe um dia), entre espelhos
e espinhos, calarem-se:

“menos ainda,

viu?”

Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)

LUZES E CHUVAS



As chuvas
de que tanto tens reclamado
sempre lavam alguma
coisa;

como, por exemplo,
o caos teu ao qual tantas vezes negaste existir
e do qual (inconscientemente)
tantas vezes tentaste fugir,
fui claro?

As chuvas
de que tanto tens reclamado
sempre, sempre, sempre
lavam algo

(a palavra maldita, a ilusão florida
o devaneio incontido);

exceto quando
são lançadas às miragens exíguas
que crias incautamente
por aí

às quais permites que,
de meros humanos, façam-se
ídolos, mitos e deuses,
entendeste?

Péricles Alves de Oliveira (Thor Shaitan)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

A VERDADEIRA SINCERIDADE DE UM AMOR





... há quem toque
(verdadeiramente) o coração
do ser amado

com ilusões perjuradas,
poesias germinadas, músicas ressoadas
e flores ofertadas,
querida;

mas (francamente)
creio muito mais no amor (e na dor),
vindo dos sublimes e sinceros
silêncios.

Péricles Alves de Oliveira

MITICAMENTE LOUCOS






... sim, sou um rato,
um verme, um faminto, obeso
e obscuro cão,
querida;

e tu és águia
(com absoluta certeza),

mas com o canto
ressoando em tons navalhados,
e as asas feitas
de frio aço.

Péricles Alves de Oliveira