sexta-feira, 30 de junho de 2017

INEVITÁVEL


OS LONGOS DIAS DE UM VERÃO FINDADO



Estão-me
ajuntando tantos destroços
aos sonhos,

que, logo,
minhas asas irão
se quebrar;

e, mesmo
quando me penso
um pouso para
descansar,

sinto-te o pálido
fulgor dos sonhos em outros
cantos,

e o indescritível
fedor dos gozos em outros
encantos.

Como isso
não bastasse,
ainda tenho de me dar
com o pior:

quando pouso
é que tenho de enfrentar
as severas sanções de meus fiéis reflexos
aos espelhos.

E, ASSIM, O MÓ SAPIENS VAI MOENDO!



... sinuosos
rios vivos, paradoxalmente
sujos e limpos,

líquidos, sim:

sinuosissimos
rios vivos, surdos ou em gritos,
inertes ou em camas
divididas,

sublimes
ou às devastadas e espúrias
planícies;

mas
sempre, linquidamente,
sinuosos rios vivos que, um dia,
a um mar de nadas irão

desembocar!

A PEDRA E O CAL



... ah,baby
de belos olhos,

tu não sabes o que é amor,
tu não sabes amar,
a Alemanha não te ensinou
a amar;

com tuas brancas
vestes, queres com o barro
brincar, sem se sujar

e, à cama,
quer foder como uma puta
sem ao anjo que pensas ser
contaminar,

tu fazes
poesias com os caos dos outros
tentando ao próprio
caos arrumar:

ah, baby,
tu nunca soubeste realmente
o que é amar,

tu gostas
é de, com suas vestes e mascaras
brancas, à lama brincar, pensando

nunca se sujar!
TU NÃO ÉS UM ANJO!

... se só tens
consciência do lado bom  
do amor,

não queiras
então sentir do outro lado
o frio rigor:

porque
senão poderás estar aferrada
entre os dois extremos
da corda,

habitando,
conjuntamente, a mente

e o meio do peito!

POR ENQUANTO...



Ainda o sol
a alto céu, por onde voam
– sem asas – bandos de pássaros
___ neandertais;

ainda o sol:
mal de uns, bem de outros,
mas ainda sempre
___ o sol,

sob o qual semeiam-se
sonhos, devaneios e frondosas árvores,
com seus doces frutos, seus frescos
leitos e suas perigosas
___ sombras.

FORA O PIOR E MAIS DENSO AMOR!



Aquele amor à porfia
em que cada um pensava voar, com os pés
atolados em lodaçais de imagens
pestilentas,

continha
nada mais que o delíquo
de suas faustas e dissimuladas
verbolescências

em imanentes,
soturnas e incontidas sombras,
cada vez mais

densas.

O TEMPO URGE



Anda rápida
e prodigiosa a hora
do homem,

em imagens
de todo tipo que vão
e vêm;

um dia, quiçá,
consiga seu completo
intento,

atingindo
as vastíssimas e puras
luminescências

de seus apócrifos

deuses.

SEM LUZES DEMASIADAS QUE O FRONTE É PESADO!


ATRAÇÃO FATAL


FITANDO O CÉU QUE ESCURECE



... por medos
de perigos ou de cansaços
é que não paro meu
traço:

aquela adaga
perfurando o lado de meu peito
para chegarem a meus
pulmões

deu-me
uma dor incontrolável;

aquele
bisturi abrindo minha barriga
e minha cabeça
também,

e tudo
com o pressentimento da hora
da imediata passagem;

mas fiquei
e aqui ainda estou e digo
que nenhuma das que tive
é como a dor de carregar, no pensamento,
niilista,

___ familia,
___ amores,
___ filhos,

___ sonhos,
___ esperanças,
___ ilusões,

a certeza
de que sempre lutamos
em direção ao inevitável:
o nada!

ANEMIA


VIVER



Que é viver
senão fantasiar glórias
em  fantasias inexeqüíveis
e infeccionar

 as virgens sombras
e as alheias coisas em senciente
e incauta batalha?

que é o ser
senão suas dissimulações por detrás
de faróis projetados,

ou de suas miopias
espalhadas entremeio a casualidade

das coisas todas?

ERRAR: NOSSA PRINCIPAL CARACTERÍSTICA



Estou errado,
sim, estou inexoravelmente errado,
aquela mulher não é minha como pensei,
e essas coisas que ando carregando
não são minhas como pensei,

nem eu me sou
como um dia cheguei a me pensar,
apenas me invento e invento, reivento
e modifico o que há  - ou não –
por aí;

nesta travessia
em que nada sei além do que
me convém, apraz-me ou escolho

como dores de parto!

O SER NÃO É A QUESTÃO



Nada somos,
apenas julgamos ser
com nossos modos de ver
e de crer

nas (re) inaugurações
que criamos em imagens projetadas,
que condenadamente não podem ser
como as fazemos parecer,

que, inexoravelmente,
estão presas à fausta e espúria
ideia do que e de como julgamos
haver.

TARDE CINZA


OS DISSIMULADOS



Quando cheguei,
havia uma calcinha jogada ao chão,
próxima ao cobertor que comprei
semana passada,

e eu vi aquilo,
como se tivesse sido perdida,
escorregada, tirada nas entrelinhas do que
não vou dizer;

e então ela percebeu
e peguntou: “que foi, aconteceu
alguma coisa?”;

E eu, dissimuladamente,
menti-lhe sobre minha decisão de traçar
caminhos curvilínios com minhas máscaras
e com meu pau,

de outras
andorinhas que se dizem puristanas
como ela.

quinta-feira, 29 de junho de 2017

AMOR TARDIO




Quão tardio
e avassalador
chegou-me
o amor

– em sublimes
sonhos e torrenciais
chuvas de fogo –,

que me desavim
de mim.

E já nem sei
dizer

se mais me estou
a voar em nuvens
ou a me fenecer
em branco
inverno;

e já nem sei
o que nos seja mais:
as palavras que virás me
dizer

ou as que
eu nunca disse
a ti.

FLORESCENTE



... és bela, sim,
mimosa,

mas eis que só
a beleza à luta vencida
não anima;

desafia
os homens em sua natureza,
ó bela mimosa que
teima,

mas devias
cultivar mais também
o pensamento

que,
a uma hora, podes ter
de lidar com teu céu em fúnebre

cortejo!

AMOR E DESEJO


Ó, MUNDO!



... mesmo que
o poeta morra, o canto não
___ pode expirar;

mesmo que
a venenosa descrença
apareça, os sonhos não podem
___ acabar;

mesmo que
não mais se ouça as dobras
dos sinos, a campa não pode
___ se congelar:

a um soldado,
a um cão, a um anjo
___ caídos,

vinte outros, para
amenizar as dores do mundo,
___ deve poetizar!

DRA. TAÍS



... não,
isso não foi uma consulta,

foi uma conversa
maravilhosa,

onde falamos
dos buracos aos chãos da vida,
da luta para superar
os obstáculos

e das escolhas
das quais somos detentores,
assim como de suas
consequências;

não,
nem me senti perante uma médica,
mas sim perante uma guerreira
preparada em tempestades
da lida,

e não me senti
doente, nem com a calada lira
ali, mas saboreei uma dose do melhor
remédio: uma boa e franca

conversa sobre a vida!

SIM, O NOSSO AMOR A GENTE INVENTA



... de mil glorias,
o amor é a mais sublime;

ah, sonhos dourados,
ah, meigas ilusões,
ah constantes esperanças,

que nos adejam
em novos horizontes,
em novos porvires sempre imaginados
possíveis,

em novas
auroras com pueris chamas
animadoras.

Sim, como
dizia cazuza, a vida é um grande
fado e, nela, o amor a gente
inventa

para aliviar
com flores, com harmonias e com gozos,
a grande e inexorável aridez

da existência!

A VERDADEIRA NATUREZA SAPIENS



... ao me
desfilar espúrimente
por entre outras coisas e outros
daseins em que fui
jogado,

pude reparar,
enfim, que tudo que me há
são meus reflexos abnômalos
espraiados por aí,

nos amores que inventei,
nos desejos que senti,
nas sombras que espalhei:

e, do mesmo modo,
pude perceber a mesma ignorância,
a mesma insânia, a mesma incautez e a mesma
inconsciência

de meus semelhantes,
ambulantes autotingidos de luz,
que também andam a se perfilar,
com suas igualmente faustas

criações por aí!

SOU APENAS UMA ABNOMALIA QUE RESISTE



... assim é
que me sobrei:

a própria
noite sem estrelas,

o próprio
deserto sem sonhos,

a própria
mente naufragada
em desespero,

sem a menor
esperança de ser atingido
por uma nova sapiens fluorescência
que me ilumine!

QUANDO TU TE FOSTE EMBORA



... aquela lágrima
que perdeste ontem à noite,

eu a peguei,
e eu a bebi ficando bêbado.

Enquanto
o vento também chorava
e sopravatriste,

apaguei
entre sonhos e pesadelos.

Hoje,
quando acordei, fui ao terreiro
e vi as folhas de outono
caídas:

lentamente
uma fina chuva caia, em minha
alma amanhecidamente

vazia!

VOU DESVENDAR TEUS MISTÉRIOS



... vou desfolhar
os segredos de tua flor
em bens e mals me queres,

vou te
ver toda vez que a ti mesma
vês passando batom
aos lábios

e vou te beijar,
e vou te alisar como se alisa
um diamante de valor
incalculável;

depois,
vou dobrar o espaço e o instante
e vou te cheirar, e vou te chupar, e vou te comer,
e vou te fazer, em silêncio,

minha amada!

UM BRINDE!



... brindemos
à nossa loucura sem a qual
nos seria impossível amar
o impossível,

navegar
por oceanos sem águas
e voar sem asas através desta
distância toda;

sim,
brindemos à nossa loucura
que nos permite a paixão avassaladora,
o desejo fecundo e o amor
absurdo,

apesar de
sabermos que, ao amanhecer
não será nossos, em beijos, que se tocam

os lábios!

INCONTESTÁVEL (IN)VERDADE SAPIENS!



Como
somos insignificantes,

pensando-nos filhos à imagem e semelhança,

com nossas abnormais
 imanências!

Ao nada também ele
compreende!

 E ele está totalmente
livre

de nossas razões,

imaginações e sentimentos!

BUSCAR, NEM QUE A ROMARIA NUNCA SE FINDE!



... neste rio
quem se prende e se rende
aos quatro elementos

está
completamente comprometido
e fodido:

é preciso
seguir, com a mente, além
do vento e do tempo

e atingir
a quintessência para sequer
imaginar (ou subjetivar) realmente
o Absoluto Poder de todo

nascimento!

RIOS DE LAMAS OU DE SONHOS



... nunca mais
te esqueças, tênue lamparina acesa,
que a mesma mão que saca de uma faca
___ ou puxa um gatilho

pode plantar
___ uma palmeira e uma flor;

que a mesma
mente que se coloca à demência
por céus azuis e chãos
___ cinza

pode fazer
um sonho de amor
___ e de paz

e que,
como dizia Augusto dos Anjos,
a mesma boca
___ que beija

pode
___ também escarrar!

quarta-feira, 28 de junho de 2017

AMIZADE



... a Fernanda Xerez!

A amizade
é o segundo elemento
mais sublime
do Ser.

E como o amor
(o primeiro) pode ser contaminado
 pela id

(em suas formas
 de poder, desejo, etc).

Devemos
sempre estar cientes de que,
como humanos, devemos respeitar o amigo como humano;

ou seja,
 como nós, à beira do erro,
para que não inventarmos
motivos

para culpá-lo
de coisa alguma por ter sido,
como nós, jogados nesta existencial
ponte confusa. 

ENFIM, O (A)MAR!



... vencer duas
e desertos;

transpor
rios, mares, lagoas
e as cidades dos anjos
dos homens;

enfrentar
brisas frias, chuvas fortes
e vendavais sem
controle;

cantar,
do chão, as escalas das nuvens
e dos picos dos mais altos
montes;

seguir sob
a luz da lua e do sol, como
por entre as sombras
da floresta:

depois
de tudo isso, podemos
dizer que dançamos juntos
em magníficas ondas

do vasto (a)mar!