sexta-feira, 31 de março de 2017

NÃO APRENDAS TARDE DEMAIS



...hoje amas
a luz que em ti aflora,

e por isso,
precias de anjos à tua
volta;

chegará,
entretando que odiaás
q luz que te foge,

e é exatamente
aí que o cão estará mais

presente!

NÃO PRECISAS VER MEU LADO NIILISTA



Não entres
assim tão linda
___ e inocente,

pegando-me
nu e desprevinido e minhas
masturbações físicas
___ e mentais;

(podes
te assustares e nunca
___ mais voltares);

antes,
portanto, bata à porta
para que eu me vista roupas
___ e máscaras

e te trate
tão docilmente como sonhas,
e tão sdocilmente como as brisas
___ das noites quentes!

DESERTO 47 – LXXXI



Tem qualquer coisa
à beira da ilusão, do erro,
ou mais provavelmente do naufrágio,
em quem poetisa essas coisas
de amor eterno, puro
___ e incondicional,

que só agradam
aos insectos trepadeiros
que gostam dos açúcares das porras,
ou aos pássaros de asas inclinadamente avesgalhadas,
que labutam em busca de fantasias,
sobrevoando os varais estirados
___ dos terreiros alheios;

isso para não dizer
que sejam aleijados no osso
– os insetos, os pássaros e as demais
metáforas apropriadas –
___ do seco cerne.

Mas devo confessar
que há algo bem mais estranho
nos pensamentos e nos eventos mentais
do niilista que escreve gozando – ou sangrando –
___ sombras e desesperanças;

o que não agrada,
nem interessa, àqueles que não têm
a mínima noção de que sejam em si, são o próprio erro,
sem nenhuma chance de recurso
___ ou conserto.

DESERTO 47 – LXXX



Gentileza a tua
dizeres que me amas assim
tão inconspurca, tão verdadeira
e tão incondicionalmente,

mas, se me perdoa a franqueza,
eu ainda prefiro acreditar nos répteis,
nos insetos, nas pedras, nos vermes
nas árvores sombreiras

e nas demais coisas quaisquer,
que sejam naturalmente incapazes de pensarem,
de desenharem cores e imagens marcadas
ou de dizerem palavra alguma.

DESERTO 47 – LXXIX



Eu e minha solidão,
e meus fantasmas de plantão,

e minhas entrelinhadas e sacanas atuações,
e minhas angustiantes aflições,

eu, enfim, e o aceite de minha natural
 espúria condição;

e vós, com vossos faróis
cheios de conjunções

a tentareis clarear sublimidades
e imensidões,

a pensardes que podemos limpar
do mundo o mesmo chão

que habitamos, com nossos gestos e enredos,
em espetaculares dissimulações

e com nossos suores, fezes

e eivadas sofreguidões.

DESERTO 47 – LXXVIII



Sempre fui naturalmente solitário,
bem mais que o niilista que veem hoje;
pelo menos o veem – ou parte dele –
nesses poemas tortos que escrevo
por entre as imagens e as vesanias
___ de todos nós;

eu era quase que só esconderijos
com minhas alucinações tremeluzentes
e com minhas abstrações calcárias,
alheio às indomáveis e pendulantes
realidades dos pássaros
___ sapiens;

eu era assim,
incapaz de ser compreendido no silêncio
de minha loucura
___ invisível:

algo bem entre as palavras,
as imagens e as fezes de meus semelhantes;
algo bem entre as líricas alvas dos anjos
e as entenebrecidas sombras
___ dos demônios.

Sim, eu era isso sem saber
– hoje segredo que sou, tendo compreendido o porquê –,
talvez por inconsciente questão
___ de sobrevivência:

inexorável
e estrategicamente escondido
___ eu de mim.

DESERTO 47 – LXXVII



Naquela noite,
ela chegou e se sentou
sem dizer uma única palavra;
na verdade, éramos ambos
silêncio: eu e ela;

e éramos mãos paradas
na ausência de afagos e carinhos,
olhos parados a se entreolharem perdidos
e sonhos parados, como que
se tivessem se congelado
à nuvem.

Talvez já não houvesse
mais nada a dizer,
talvez nos tivéssemos
tornado dois caminhos vazios
a se encontrarem
em alguma bifurcação
noturna,

talvez nos fosse
a hora de partir e de seguir viajantes,
entre outros sonhos e quedas
do mundo.

Sim, talvez,
mas eu não conseguia sair,
e ela não tinha forças para partir,
e isso foi o mais próximo
que já senti

do chamam de amor

por aí.

DESERTO 47 – LXXVI



Sonhei três noites
sob o escandalosos tremeluzires
das  estreladas:

na primeira,
veio-me um anjo branco
e não ficou;

na segunda,
veio-me ela, vestida de nuvem,
e também não ficou;

na terceira,
veio-me a presença epiléptica
da morte;

 e esta se me enraizou.

DESERTO 47 – LXXV



Desmascarando
o conjunto de atuações
– aos sonhos, às fantasias e às palavras –
pelos caminhos e desalinhos
___ do mundo;

percebo não o esplendor
dos criacionistas de abstrações
___ com suas luzes neons,

mas a inexorável comprovação
e suas abnômalas, sencientes e espúrias
___ origens e projeções

e seus inevitáveis retornos,
o tempo certo, à virgindades naturais
___ das casualidades.

DESERTO 47 – LXXIV



Quando
o amor de carnes
se nos chega ofertado  em cântaros
 inocentes,

o mais provável
é que ele nos torne
ainda mais torpes as retinas

da razão.

DESERTO 47 – LXXIII




Sempre fui naturalmente solitário,
bem mais que o niilista que veem hoje;
pelo menos o veem – ou parte dele –
nesses poemas tortos que escrevo
por entre as imagens e as vesanias
___ de todos nós;

eu era quase que só esconderijos
com minhas alucinações tremeluzentes
e com minhas abstrações calcárias,
alheio às indomáveis e pendulantes
realidades dos pássaros
___ sapiens;

eu era assim,
incapaz de ser compreendido no silêncio
de minha loucura
___ invisível:

algo bem entre as palavras,
as imagens e as fezes de meus semelhantes;
algo bem entre as líricas alvas dos anjos
e as entenebrecidas sombras
___ dos demônios.

Sim, eu era isso sem saber
– hoje segredo que sou, tendo compreendido o porquê –,
talvez por inconsciente questão
___ de sobrevivência:

inexorável
e estrategicamente escondido
___ eu de mim.
não te amarres
demasiadamente nas superfícies
côncavas dos centros; e nunca, nunca te salves
enquanto outros se padecem
___ às beiras das margens.

DESERTO 47 – LXXII



Humanos: um bando
de filhas da puta comedores
e regozijadores de imagens, que ficam sentados
com seus rabos às beiras de abismos
___ estofados,

a se acharem
bons e a lançarem aos ventos,
como infalíveis deuses,
seus ensinamentos, sublimidades
___ e fluorescências vagas,

enquanto
jogam aos demônios
as culpas de seus males, de suas pragas
___ e de suas nefandades;

eu: “humano,
___ demasiado humano”.

DESERTO 47 – LXXI



Para sobreviver,
tentei gritar nos teus silêncios
– quando me chovia em
verbos afiados –,

sabendo
que eles se deviam
a seus encantamentos com outras
esplêndidas visagens;

para que sobrevivesses,
tentei calar-me nos teus gritos
¬– quando te chovias em tempestades
de palavras –,

sabendo tu
que eles se deviam
a minhas quedas por outras
paragens;

até que morremos,
totalmente vazios e pálidos,
em algum ponto entre a loucura e a razão
desse estranho amor
à nuvem.

quinta-feira, 30 de março de 2017

SOMOS FARINHA DO MESMO SACO!


DESABAFO: CHAMEM-ME COMO QUISEREM, EU CONHEÇO ESSA IMANÊNCIA



... já me chamaram
de cão do diabo,
de comedor de galinha,
de libidinoso desgraçado

e de tudo
que imaginarem,

mas o que
quero dizer não é isso,.
porque de mim nunca nego
imanências nem nada;

o que quero
dizer é que todas as mulheres
que eu conheci à exceção de duas
cujos nomes faço segredo,

incluindo
entre elas Lilith (a  Ana), Nuvem,
Gigi e Nony

não se diferenciam
no verbo afiado, lançando-se
como luzes,

mas que,
quando uma mulher quer dar,
nem pai, nem mãe,
nem papa,

(seja na lama, na cama
no barro, no cascalho, na construção
ou no mato)

segura
e protege um sujeito compromissado
de ela querer uma boa
trepada.

apontando-me, assim,
com a prática que elas, apesar
(de peidarem santidades faustas)
e homens como eu são nisso
iguais,

e que, na hora que querem
se abrir,  elas dão, não se importando
com maridos, amigos, familiares
e mais nada!

Se sou puto por bater punheta ou gostar de mulher, são putas como eu por gozarem com manés!


DESERTO 47 – LXX



Outro sonho:
ela em espiral e silente
brancura,

a descer
das adjetivas alturas dos céus
e das nuvens,

a tentar acalmar-me
o imenso e espiralado mar

escuro.

DESERTO 47 – LXIX



Luta, mas luta
com todas as forças que tens,
e se precisares podes
___ contar comigo;

mas não deixes
de lutar de cima desta nuvem,
para que tuas dores e tuas chuvas
não se tornem rotas
___ de fuga,

para que tuas dores
e tuas chuvas não se tornem
inconscientes fontes
___ de alívio e prazer.

DESERTO 47 – LXVIII



O que seria deus
a não ser tudo que incautamente
possamos (re) inventar com nossas faustas,
abnormais e fragmentadas
senciências;

e que seria deus
a não ser nada mais que tudo
que possamos (re) inventar com nossas faustas
abnormais fragmentadas
senciências?

DESERTO 47 – LXVII



Para conseguir deixar-te
de modo definitivo, não bastaria
a ausência das palavras
___ e dos corpos,

nem meu desterro
ao silente e solitário deserto
– ao qual, aliás, tenho habitado
há tanto tempo –;

para conseguir deixar-te
de modo inexoravelmente definitivo,
teria de me ser apagado
___ de mim mesmo,

em último e perpétuo adeus
___ ao sonho nuvem.

DESERTO 47 – LXVI



E a morte virá
de outra forma do que aquela
em que se esperançam,
pois impossível é que ela se haja
conforme crêem ou idealizam
___ em seus aléns:

nus das carnes, dos ossos
e, por fim, das faustas senciências;
os átomos voltarão a se confundirem
na quântica das possibilidades,
onde não mais se possam postar
___ o violador olhar do ser.

E a morte
virá inexoravelmente assim:
___ no deixar de ser;

e o não ser é nada mais
que o vento perdido sem nome,
que a lua, pedras, estrelas que não mais
serão se saberão, nem serão vistas
___ como lua, pedras e estrelas;

e o não ser é nada mais
que os sonhos, e as esperanças, e as vesanias,
e os mitos, e as lendas e os deuses todos,
___ e as demais gêneses todas,

e tudo o mais que advenham
das fragmentadas e abnormais mentes dos neandertais,
que não mais existirá de forma alguma,
quando de nossas submersões
___ regressas,

em apagamento final,
às inalienáveis casualidades
___ do universo.

DESERTO 47 – LXVIII



É tarde para as águas
turvas que desembocarem,
em faustos horizontes
de nada;

o que há agora
são cinzas,um marulho mouco
de nuvens e sóis
passados,

de flores
desfilando sobre minha
calçada

e de destroços,
 vazios e mais cinzas

molhadas.

DESERTO 47 – LXVII



Não,
não sei explicar o que é
exatamene o deserto
___ em mim,

mas certamente
não é como op caminho dos pássaros
que imaginam achar tudo
___ ao meio do nada;

é algo como
que, ao contrário,
como que se pudesse um tudo,
tendo a certeza de
___ ser nada.

DESERTO 47 – LXVI



Quando cheguei,
havia uma calcinha jogada ao chão,
próxima ao cobertor que comprei
___ semana passada,

e eu vi aquilo,
como se tivesse sido perdida,
escorregada, tirada nas entrelinhas do que
___ não vou dizer;

e então ela percebeu
e peguntou: “que foi, aconteceu
___ alguma coisa?”;

e eu, dissimuladamente,
menti-lhe sobre minha decisão de traçar
___ caminhos curvilínios

com minhas máscaras
e com meu pau, de outras andorinhas
que se dizem puristas
​​​​​​​___ como ela.

DESERTO 47 – LXV



Nas madrugadas
de densas e frias sombras,
há fantasmas se escorrendo com seus
___ marulhos moucos,

e reminiscentes lembranças
dos vívidos tempos de outrora
que vão se afogando, aos poucos,
no definitivo e inerte deserto
___ por onde ando.

E eu sei que, como outrora,
deveria de mim me esconder por questão
___ de sobrevivência,

mas decidi
inexoravelmente abandonar
a transitividade vaga, os sonhos e esperanças
___ abstrativadas

E mergulhar
no profundo de tudo
que eu , supostamente,
___ não pense.

DESERTO 47 – LXIV



Nunca me estou,
entremeio às coisas
senão de modo a violar suas casualidades
com meu senciente e abstrato
___ apetite;

donde declaro-me, pois,
como um porto que parece seguro
e um mar que parece tão vasto
___ como eterno,

mas não me passando,
um homem abnômalo e alucinado
que resiste ao que chamamos
___ vida

e a minhas –
e a demais – faustas e cegas
visões da fragmentada
___ mente.

DESERTO 47 – LXIII



Sonhos promíscuos
e paus endurecidos se enroscam
escondidamente nelas

– as puristas de plantão –

até que
sob os nós tremeluidos
de suas próprias palavras,
elas se desvaneçam

em meio
às mesmas sombras e fezes
em que tanto atiram.


DESERTO 47 – LXII



Hitler cometeu um erro,
devia ter tentando dizimar era
os menestréis de belos discursos
___ e talhos de ouro

– a começar por si
mesmo –,

que eles
é que pregam a paz
enquanto amam
___ à guerra,

e pregam o amor
com porras traidoras escondidas,
e pregam a irmandade entre as demais
formiguinhas de suas cabines
___ enriquecidas.

E Nietzsche
errou também, devia ter enfiado
logo aquela soberbia
___ no cento do rabo,

em vez
de criar um Zaratustra
obrigando-me a enforcá-lo em plena
___ praça pública,

porque que todo deus
humano e tudo o mais que por ele
é criado,não basta que seja
___ morto.

E todos,
e eu também erramos,
eu sei sim que sou inexoravelmente
___ um erro ambulante,

uma roleta
russa na cabeça dos outros, nas coisas
dos outros, e também nas demais
___ coisas dos outros;

eu só não
sei ainda é o que fazer
___ comigo mesmo.

DESERTO 47 – LXI



Se reinventamos
o mundo e tudo que nele há,
___ e além dele também,

e sepultamos
todas as causalidades naturais
e refizemos todas as possibilidades
___ artificiais,

alguém pode me dizer
por que jogamos essa espúria
e esplendorosa
___ condição

e todo o peso que
dela inexoravelmente decorre
às costas de um
___ deus?

QUAL A TUA FORÇA E DISPOSIÇÃO?



... deves ter
uma força que te faça
sobreviver quando, naturalmente,
te fores despida de tua
___ natural beleza;

são sublimes
e fantásticos os sonhos
e o que se planta em encantados
___ castelos,

mas não são
___ concretos,:

posso alimentar
tua gula, desde que saibas,
ainda que em dor
___ e sofrimento,

com o forte vento,,
e com os ciclones, e com as tempestades
de um, cedo ou tarde, inevitável
___ deserto!

DESERTO 47 – LX



Estou errado,
sim, estou inexoravelmente errado,
aquela mulher, carro, a casa,
a flor que plantei
___ no vazo,

meus poemas,
não é minha como pensei,
e essas demais coisas todas e esses sonhos todos
que ando carregando não são meus
___ como pensei,

Nem eu me sou
como um dia cheguei a me pensar,
apenas me invento e invento, reivento
e modifico o que há - ou não –
___ por aí;

nesta travessia
em que nada sei além do que se liga,
e me convém, ou
___ me apraz,

(mesmo em se
falando de dores e quedas)
de alguma forma. antes que
___ me anoiteça.

DESERTO 47 – LIX



Nada somos,
apenas julgamos ser
com nossos modos de ver
___ e de crer

nas (re) inaugurações
que criamos em imagens projetadas,
que condenadamente não podem ser
___ como as fazemos parecer,

que, inexoravelmente,
estão presas à fausta e espúria
idéia do que e de como julgamos
___ haver.

DESERTO 47 – LXVIII


DESERTO 47 – LXVII



Não,
não sei explicar o que é
exatamene o deserto
___ em mim,

mas certamente
não é como op caminho dos pássaros
que imaginam achar tudo
___ ao meio do nada;

é algo como
que, ao contrário,
como que se pudesse um tudo,
tendo a certeza de
___ ser nada.

DESERTO 47 – LXVI



Quando cheguei,
havia uma calcinha jogada ao chão,
próxima ao cobertor que comprei 
___ semana passada,

e eu vi aquilo,
como se tivesse sido perdida,
escorregada, tirada nas entrelinhas do que
___ não vou dizer;

e então ela percebeu
e peguntou: “que foi, aconteceu 
___ alguma coisa?”;

e eu, dissimuladamente,
menti-lhe sobre minha decisão de traçar
___ caminhos curvilínios

com minhas máscaras 
e com meu pau, de outras andorinhas 
que se dizem puristas 
___ como ela.

DESERTO 47 – LXV



Nas madrugadas
de densas e frias sombras,
há fantasmas se escorrendo com seus
___ marulhos moucos,

e reminiscentes lembranças
dos vívidos tempos de outrora
que vão se afogando, aos poucos,
no definitivo e inerte deserto
___ por onde ando.

E eu sei que, como outrora,
deveria de mim me esconder por questão
___ de sobrevivência,

mas decidi
inexoravelmente abandonar
a transitividade vaga, os sonhos e esperanças
___ abstrativadas

E mergulhar
no profundo de tudo
que eu , supostamente,
___ não pense.

DESERTO 47 – LXIV



Nunca me estou,
entremeio às coisas
senão de modo a violar suas casualidades
com meu senciente e abstrato
___ apetite;

donde declaro-me, pois,
como um porto que parece seguro
e um mar que parece tão vasto
___ como eterno,

mas não me passando,
um homem abnômalo e alucinado
que resiste ao que chamamos
___ vida

e a minhas –
e a demais – faustas e cegas
visões da fragmentada
___ mente.

DESERTO 47 – LXIII



Sonhos promíscuos
e paus endurecidos se enroscam
escondidamente nelas

– as puristas de plantão –

até que
sob os nós tremeluidos
de suas próprias palavras,
elas se desvaneçam

em meio
às mesmas sombras e fezes

em que tanto atiram.

DESERTO 47 – LXII

Hitler cometeu um erro,
devia ter tentando dizimar era
os menestréis de belos discursos
___ e talhos de ouro

– a começar por si
mesmo –,

que eles
é que pregam a paz
enquanto amam
___ à guerra,

e pregam o amor
com porras traidoras escondidas,
e pregam a irmandade entre as demais
formiguinhas de suas cabines
___ enriquecidas.

E Nietzsche 

errou também, devia ter enfiado
logo aquela soberbia
___ no cento do rabo,

em vez
de criar um Zaratustra
obrigando-me a enforcá-lo em plena
___ praça pública,

porque que todo deus
humano e tudo o mais que por ele
é criado,não basta que seja
___ morto.

E todos,
e eu também erramos,
eu sei sim que sou inexoravelmente
___ um erro ambulante,

uma roleta
russa na cabeça dos outros, nas coisas
dos outros, e também nas demais
___ coisas dos outros;

eu só não
sei ainda é o que fazer
___ comigo mesmo.

DESERTO 47 – LXI



Se reinventamos
o mundo e tudo que nele há,
___ e além dele também,

e sepultamos
todas as causalidades naturais
e refizemos todas as possibilidades
___ artificiais,

alguém pode me dizer
por que jogamos essa espúria
e esplendorosa
___ condição

e todo o peso que
dela inexoravelmente decorre
às costas de um
___ deus?

quarta-feira, 29 de março de 2017

DESERTO 47 – LX



À noite,
ela à porta, toda arrumada
e impacientemente
___ a me esperar,

por detrás
daqueles olhos enigmáticos,
há um segredo que
___ já conheço:

depois de aspergir
fluorescências ao dia,
ela precisa sonhar, acordada e escondidamene,
com caudais desejos
___ às sombras.

E ela não espera
em vão, porque em mim há
outro segredo que ela sabiamente
___ já decifrou:

quando venho
em suas noites insones,
pego-a pela mão, e nos escorros
so quarto escuro;

transformo-me
em extático canibal
e a amo nas curvas de seus medos
pois sou a plena realização
de seus mais secretos
___ desejos.

Malgrado as chuvas
e as quedas, surgiu-nos, inesperadamente,
a chance de um novo
___ alvorecer,

anda, abrevia,
ajuda-me a abrir as portas,
as janelas, os telhados
e os nossos corações
___ machucados:

e deixa que,
desta vez,adentre-nos,
desse reluzente momento,
___ uma paz soberana.

DESERTO 47 – LIX



Apesar de os horizontes
ainda me abrirem
vastas possibilidades,
sinto tua falta;

talvez pelo olhar,
pelo sorriso, pelos gestos
ou pelo belo corpo
ausente;

talvez porque
– entre a carne, o verbo
e o sonho –
eu ainda te ame
realmente.

DESERTO 47 – LVIII



Sozinha
ao aquecido leito, se me vires
em uma dessas frias
noites hiemais,

a ondular,
sublime e candidamente,
entre tua consciência se desbotando
cansada e o livro caído
à cama;

começarei a acreditar,
realmente

– além das tremeluzidas
luzes de tua razão,  dos regozijados verbos
de tua boca, e dos nevoados gestos
de tuas atuações –,

que possas estar
me amando.

DESERTO 47 – LVII



... ainda
que eu gere controvérsias,

ainda
que eu provoce choques,

ainda
que eu cause náuseas;

ainda
que surjam surtos
de indignação pelo que
vomito;

eu sou
o cão do deserto

e devo
seguir adiante,

mesmo
que seja como uma forma
de resistência,

 com meus versos tontos
e insanos!