sábado, 24 de agosto de 2019

AMOR


... amores perdidos no tempo,
amores perdidos nas chuva,

amores defeitos e lágrimas,
amores escondidos

lutos

teu amor eterno
levado a morte inglória!

SAUDADE


...tua luz ainda está
acesa meu amor,

sobre a mesa
que deixaste em minha sala
vazia!

CARTAS MARCADAS!


... e a tudo olham
– e (re) inauguram – pelas sencientes frestas
___ os sapiens neandertais,

exceto quando
se lhes assevera [inevitavelmente]
o fechamento das cortinas
___ do grande palco

e o eterno
retorno ao inexorável e frio
___ apagamento!

EU TE DEI TODO O MEU POSSÍVEL!


Eu ainda ouço
teu pedido de ajuda
pela dor de teres de viver num mundo
formado por espetaculares
imagens,

eu ainda sinto
a tua angústia em tentar viver
um amor sem-imagens,

eu sinto muito
que não tenhas entendido
nem meu amor, nem minha loucura,
nem minha incensatez:

eu realmente
sinto muito que, antes de morreres,
te rendeste às vozes das cidades
e dos mitos do mundo!

DE QUE ÉS FEITA?


De que és feita,
que me faz ficar trincado assim
em tão poucos segundos?

De sol?
De luz?
De chama?

De sombra?
De poesia?
De ternura?

De sensuais impulsos?
De deliciosidade seminua, com sua calcinha
mostrada como branca margarida?
De amor, com tudo no segundo
em que nos amamos?

O que em ti me conduz
aos sonhos, aos tons e aos desejos
e que, como cigana linda,
me seduz?

VIRGENS E APAIXONADOS


... já era
feio como uma rapadura
___ apodrecida,

e ela,
linda com aquele olhar apressado
e aquele jeito de anjo
___ carente;

era minha primeira vez,
___ lembro-me:

entardecido,
já nos meados de meus
___ vinte e dois.

Acho que
foi a única vez que o sublime superou
o prazer dado por uma
___ boceta:

vibrei-me
com cada átomo (em cada abraço,
em cada beijo, em cada
___ pensamento)

amei
com cada fragmento de muitos
mundos e de muitos
___ tempos

e, como se adivinhasse
que jamais me haveria novamente
algo tão puro, belo
___ e perfeito,

eternizei-nos
na indizível pureza daquele
___ momento.

A BIPOLAR!


De saudade,
de angústia, de dor e de sofrimento,
chamo-te Lilith,

a quem outrora
conheci em seu inferno humano
e sarnento;

por amor,
depois de morta, chamo-te
de A Flor do Inverno, com verdadeiro
sentimento, em poesia
e emoção!

EU JÁ PERDI GRANDES AMORES!


Sobram apenas dor,
estilhaços e lágrimas salgadas

de um amor
dito infinito que se perde

por qualquer laço nu,
por qualquer corpo cheio de curvas
e delícias ou por outra coisa
que nos cause êxtase
e vício!

SER!


… até que enfim
encontrei meu destino: ser.

Ser dos desertos
(mesmo de desertos casados)
oasis de amor e de desejo),

ser o alvoraçar
e o quebrar de asas inválidas,
atiçadas pela esplêndida imaginação
sapiens,

ser o suspiro do orgasmo
e o murmúrio das nuvens, das chuvas
e das angústias,

ser o alívio da dor
e a dor da flor que se desespera
ilegítima:

ser, condenadamente,
o tudo, o nada e o louco vasto
que ocorre nos ocos silências
e nas esquinas quebradas!

FUGA!


… quando a noite chega
e os girassóis se tornam negros,

vazadamente por vazios
e frias brumas,

só uma flor
com o coração sublime e a alma
limpa

pode lhe
oferecer algum caminho
de fuga!

OS LABIRINTOS DA PSIQUÉ


... nos labirintos
insanos da psique humana,

(eu os
conheço bem),

há luzes
descontroladas, fulgores
cálidos

e absintos

ESCUROS BECOS!


... estou perdido nos becos
de depois de tua morte, caí num breu
que parece não ter fim,

e tu te encontras
agora na casa de teu Senhor,
com fortes escudos e acompanhadas de anjos
não sapins que iriam te fazer
cair de novo;

estou vacilante
nisso a que chamam vida, como se andasse
constantemente sobre uma corda
bamb a

e tu estás
sendo preparada para conquistar, enfim,
a pureza plena e eterna a que
sempre quis;

estou vivo,
mas morto em carne andante,
e tu estás morta, sem mais rosto, pele,
ossos ou carne alguma,

mas vivíssima
neste lindíssimo e tranquilo novo lar
que Deus lhe deu!

AINDA TE NAVEGO!


... por que
eu deva lavar os olhos
depois de chorar
por ti?

Por que
eu devia deixar de ouvir
o mar depois de te ver nele
a navegar?

Por que
eu devia deixar de olhar
para a lua e para as estrelas de é lá
que tu estás agora?


Por que
eu deveria ser um cidadão comum
e, só porque tu morreste, procurar logo
novo abrigo e novo corpo para
foder e amar?

Por que

eu deveria ser um cidadão comum
e, só porque tu morreste, procurar logo
novo abrigo e novo corpo para
foder e amar?

SILENTE


... não quero
ser o cão que perturba o teu
céu em silêncio,

nem o que
atravessa suas noites como
membro de uma matilha
em fúria:

permita-me
apenas ser como uma brisa
que ora te toca, ora te deixa, ora te ama,
ora te beija!

A MORTE VISTA EM SONHOS


Nesta noite eu vi, em sonho,
quando me ia subindo
trepado por entre as paredes das casas,
e dos prédios de cimento;

e depois atarraxado
às entranhas de pássaros com asas de metal,
a subir-me cada vez mais alto
em direção a não
sei o quê.

Sei que vi quando os telhados,
as janelas e as portas das gaiolas concretizadas,
como os caminhos fabricados por multidões abaixo,
foram-se desaparecendo;

e as cores e as imagens
– todas elas –,
juntamente com pássaro metálico
foram-se transmutando disformemente,
em um branco ou preto
sem sentidos,

prenunciando o fim das verdades
– das minhas verdades –
que também se me foram esquecendo
em minha volta à indecifrável
origem cosmológica.

CAUSALIDADE


Não tenho
mais a menor dúvida:

o senciente ego
não passa de uma máquina
criadora de ilusões
espúrias,

a casualidade alheia
são os verdadeiros pilares
de tudo.

O IMENSO PESO DO MUNDO!


… ja nada mais é leve,
sim, tudo pesa, do problema do filho
à pirraça da mulher,

e o vento
já não mais pega leve,
geralmente tempestua a esta
altura do deserto:

um oásis
parece tão necessário que, mesmo
quando as rochas nos cortam a pele,
ainda assim queremo-lo,

com receio
de depois não mais o ter:
ledo erro, tudo deve ter a sua certa
hora!

PÁSSARO DE MORTE


… quando sucumbe
faminta a terra, a água das chuvas
e dos mares já não
lhe basta,

o verde
das matas e o azul dos céus
já não lhe bastam,

os cantos
e as cores dos pássaros de todos
os tipos já não lhe bastam,

as monalisas
e as beldades de um mundo inteiro
já não lhe bastam,

as tempestades
e os abismos mais profundos já
não lhe escabram:

somente
a morte, com seu frio, eterno
e manso beijo, consegue aliviar o seu
extremo cansaço!

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

ALTA TENSÃO!


Desde fim de semana passada,
dias difíceis,

e contra dias
difíceis, desses dificílimos
que vez em quando nos ocorrem,

costumamos
buscar algum refúgio, algum alívio,
algum porto mais seguro,

seja na ilusão
do amor, seja no desejo ou em sua tentativa
quando tudo parece desabar,

seja viajando,
seja como for, mas há dias
tão severos e difíceis

que somente
uma flor do deserto, consegue
em algo nos aliviar!

SEGUE O FRONTE!


... mas, próximo
à morte, ainda sou trapézio

e me balanço,
e me oferto a ti, amando-te

e me acendendo
quando dá.

domingo, 11 de agosto de 2019

MEU CÁLICE


Ó flor de inverno,
sensual e bela como a frágil
brancura da neve,


se és assim
tão candidamente verdadeira e singela
como me tens dito;

não te preocupes
com os funambulismos dos pássaros
e da bicharada das demais
estações,

tenho tantas máscaras
que, quando precisares para subires
aos palcos da vida ou aos paus
dos tentilhões azuis,

posso te emprestar
algumas.

TENEBROSO PASSADO


A boca que outrora
me confortou e disse me amar
choveu-me chuvas
de fogo;

a mão que outrora
me afagou o rosto e o corpo,
regeu-me orquestras
de pedras;

e eu a produzir,
o tempo todo, as sombras
que lhe infiltravam o avesso ego
em queda,

em ominosos e recíprocos
sonhos, fantasias e insânias de nós dois,
que morremos humanos,
tentando nos amar como mitos,
lendas e deuses.

INÓSPITO AMOR


Como o vento
que cavalga o tempo,
fluímo-nos nesse amor
inóspito;

entre juras
de amor incondicional,
satisfação de desejos secretos
e uma inexorável vontade

de nos chovermos,
de nos julgarmos e de nos amaldiçoarmos
com as malditas possessividades
de nossos egos.

QUANDO SE MORRE DE AMOR


… ela dizia
que estava morrendo por me amar
tanto,

e eu percebi que,
diante de tanta loucura, eu tinha
de abandoná-la para sobreviver, pois
ser-me-ia fatal essa luta
solitária:

entre traições
e chuvas de ogo que promovemos
para tentarmos provocar nossas metafóridas
mortes e aliviar nossas insanas
dores,

perdemos
partes nossas, ou nos perdemos
todo em outros cantos, em obscuros recantos
e em leitos brancos:

depois de sua eterna
partida deste mundo, em real morte,
não sobrou praticamente nada
daquele grande e mal cuidado
amor de outrora!

RESTOS DE UMA LUZ DO INVERNO!


Como eram agitadas
nossas idas noites, com nossa
recíproca insônia
amante,

que saudade
daquelas auroras quando
me acordava te vendo
ao meu lado,

que sonho,
que incense, que orgasmos
tínhamos sob aqueles céus
descosturados:

que triste,
que absurdamentemente triste,
é constatar que nem tua eternal
ausência aliviou um pouco
minha dor e saudade!

HAVERÁ NADA!


Ao reino
eterno, ao reino dos céus,
como assim o dizem,

esperam-nos
os anjos, a nós, ainda prostitutos
da palavra volátil,

ainda escravos
dos desejos e das vaidades
e orgias fantásticas;

a nós, cães,
lobos e demais vagabundos
que pensamos saber
de tudo.

E conosco
vão nossas mentiras, nossas infâmias,
nossos rabos sujos, nossos segredos
absurdos,

esperando pelo
perdão de um pai, que criamos
só para lhe impor o atendimento
de nossos anseios absurdos,

de nossos pedidos
impossíveis e nossos medos
cinza-escuros!

METADES DE MIM!


De mim,
saem-me metades tingidas,
outros de mim
mentidos

em caminhos
aquarelados pela boca ou extruídos
em fantasiosas ilusões
ou vesanias.

De mim,
tão somente de mim:
inalienável e inexorável fonte
de tudo (e do todo)

– amor e ódio,
esperança e descrença,
o bem e o mal –

até que
o apagamento reclame
a finda demência,
amém!

MEU BEM-QUERER!


Bem que queria
proteger-te depois que machucaste as frágeis
asas por quase todas as paragens
por onde voaste incauta;

mas ainda não sei como,
se a cada palavra ou silêncio meu,
parece sofrer-te
ainda mais

com a mente traumatizada,
com as feridas mal cicatrizadas,
com o coração cansado e com a alma
desesperançada.

EM ÓRBITA INCERTA!


... em órbita incerta,
tentamos nos firmar com a razão, com o poder
e com a esplêndida e ilusória sublimidade
dos anjos,

enquanto cavamos,
cada vez mais, grandes e escuros precipícios,
onde costumamos
copular

[às escondidas]
com aquiescidos, famintos e perdidos
demônios de todos
os tipos

O TEMPO DE AGORA


O tempo agora
e de abandonar o incauto caminhar
entre imagens de flores
perfumadas

de congelar os vôos
com alvas passarinhas onirizadas,
e de trancar ao cerne as insânias
outrora estravazadas;

O tempo agora
é de manter a ausência da nuvem,
evitando novas chuvas
e vendavais;

deixar os exíguos sonhos
naufragados
e não ousar ser mais
que nada.

OS SONHOS SE TORNARAM VÃOS!


Tudo parece congelado
em um cada vez mais rígido,
em um cada vez noite,
em um cada vez mais
alagado.

Tudo parece perdido,
com os sonhos todos naufragados,
com as esperanças todas acabadas,
com as terras todas
arrasadas.

E eu não sei mais
nem onde andam as putas inflamadas
para uma orgia
enlatada;

e eu não sei mais
nem onde andam os anjos e as puristas
com suas crenças e certezas
penduradas.

E eu me sinto assim,
cada vez mais longe do sol,
cada vez mais longe
de alguma luz
qualquer;

e eu grito
em febril delírio,
e ninguém ouve porque
eu grito silente nessa ruína,

como o último suspiro
de um condenado.

CHUVA INCESSANTE!


E as chuvas
continuam: chuvas,
sangues e dores.

E este cão condenado
sequer pode
pegar o próximo trem
da manhã,

nem colher
a próxima flor a nascer,

nem fabricar
o próximo sonho
a morrer!

É DIFÍCIL SOBREVIVER!


É difícil sobreviver
neste mundo lotado de imagens
que nos levam a lugar
algum:

e, quando é para vivermos,
sem anteciparmos o dia morto,
um grande e audacioso
amor,

parece
que nos esquecemos que, como a passage
de uma avassaladora tempestade
que passa,

sempre há o risco
perda!

O PREÇO DA VIDA!


... quantos
homens sabem realmente
observar as profundidades
dos lagos,

se, mesmo
à superfície, lhes custam
tantas dores e
angústias;

e quantos
homens conseguem
habitar as profundidades
dos lagos,

se isto
lhes custa, por carestia
de oxigênio e de sonhos, a própria
vida?

ANGELICAIS OBSESSÕES


Soturnos anjos
descem às escondidas de seus
céus azuis

para pousarem
e me amarem em minha fria
e sombria casa:

depois de se fartarem
e gozarem, saem vestidos de branco
em cânticos de glória,

jogando-me
o peso da transgressão e do pecado
consumados em soturnos
e extáticos rituais!

PAISAGEM VAZIA!


... meus tenros sonhos
viraram pesadelos definitivos,
dos quais não consigo escapar
meu meus hábitos
caninhos;

desde os amanheceres,
os dias estão brancos como
folhas frias,

como a alma
deste poeta niilista, a tentar escrever
poesias com seus vazios
encardidos!

A NOITE E SEUS SEGREDOS


A noite
e suas silentes vagas,
e seus intransitivos escuros,
e seus incompreensíveis
segredos,

mas tão sublimemente
alheia a noite – e assim tão inocente –,
que não resistimos a estuprá-la iluminá-la
com nossas refulgências
sencientes.

O ESQUECIMENTO TEM PORTÕES


Não faz sentido,
esqueci-me completamente
daquele pálido
rosto,

e os discursos
puristas, sublimes, alvecidos
sumiram-me da memória
fragmentada;

não faz sentido,
não me lembro mais
daquelas curvas e daquele
misterioso jeito,

e as dádivas
e as juras de amor eterno
se me desapareceram
por completo;

não faz o menor sentido
como outrora pude adentrar
aquele jardim e cometer
tamanho erro.

AMOREUX DE LA NUIT!


Que fomos
senão dois amantes adoradores
de imagens em jogos
de espelhos?

Que fomos
senão apenas mais dois objetos
do querer e do desejo, quando nos bebíamos
de corpo e alma inteiros?

E quando pegávamos
do mundo o tesão, a fantasia, a loucura
e os brilhos e pesos?

Que sonho
foi aquele nosso à nuvem,
se vivíamos rolando pedras aos chãos
o tempo inteiro?

Que grande e eterno
amor era aquele que nos jurávamos
com uma linguagem colorida,
mas afiada como navalha
bêbada?

LIBERDADE


Quem
dentre nós pode
realmente falar em
liberdade,

de dentro
da maior de todas
as prisões que
habitamos:

nossos próprios
egos?

O DESERTO ME TOUXE DE VOLTA


O deserto
me trouxe de volta
a ausência dos vôos das andorinhas
e das gaivotas

e estabeleceu,
entre o céu azul e o árido chão,
caminhos vazios
sem rotas;

como se não bastasse,
fez-me ainda um imane e angustiado demente
a me escorrer em mal traçadas
poesias mortas.

O FIM


A única coisa
que realmente preciso de ti,
é de um silêncio morto
e sempiterno;

que, do resto,
já bebi e comi – e tanto, e tantas vezes –
que acabei me tornando
sombriamente obeso.

O QUE APENAS SE IMAGINA HAVER


Olhares de bilhões
clareiam, com seus faróis - sencientes -,
as casualidades alheias
das sombras;

pontes se constroem
cada vez mais densas - e a todo momento –
com suas magníficas ilusões
fluorescentes;

entremeio a tudo,
um poeta e uma poetisa se veem - distantemente –
e se aproximam com a paixão enferma
de seus versos.

AFASTAMENTO


Afasto-me, vagarosamente,
de teu âmbito nuvem,
e monto vigorosa barreira
para conter-te as faustas dádivas,
as soberbias desvairadas
e as chuvas afiadas;

sim, já não tarda muito
para que não mais te sejas
permitido entrada
às bipolaridades de meus neons
ou aos enegrecidos degraus
de meu cerne degredado;

e te tenhas de ir
a vibrar tua boca e tua mente
encharcadas,
por outros caminhos
e outras esquizofrenias
inauguradas.

O NIILISTA MORREU CONTIGO


Nos últimos tempos,
depois que tu partiste ao paraíso,
tenho andado tão breve
e tão mínimo,

tão exangue
no fio desta tênue vida
tão confuso, tão desérico
e tão sem abrigo

que,
em meu velho telhado
só têm pousado imensos cardumes
de nadas e de vazios!

A CORTINA!


Escorro-me escuro,
como um vagabundo que não
quer se aceitar vagabundo:

arrato-me,
visto poesias escuras,
escondo os farelos de minhas
quedas;

então escorro-me
de modo ainda muito mais sujo,
quando de anjo me dissimulo

para poder amar
e foder as puritanas deste
mundo!

O RETRATO DE THOR MENKENT!


Eu não me disse poeta,
eu nunca me disse anjo,
eu não me lembro sequer
de me gabar por tentar
ser honesto;

eu sempre assumi,
perante as beldades que conheci,
embora afirmassem que eu fosse um tarado
endemoniado,

que, ao se abrir
das cortinas do espetáculo,
sempre me houve também
um claro querer

de início de projeção
de minha boca às suas bocas
e de minhas mãos entre as pernas:
delas e as minhas!

ATÉ A ETERNIDADE!


Alguma vez
conseguiram apagar uma estrela
com a imaginação e com o poderosíssima
senciência humana?

– Não!

Pois é assim,
do mesmo jeito impossível,
que me enlouqui na borda
daquela lua,

quando
me dei a te amar, de tal modo
que até as minhas sombras
se puseram a brilhar!

O PREÇO DA VIDA!


... quantos
homens sabem realmente
observar as profundidades
dos lagos,

se, mesmo
à superfície, lhes custam
tantas dores e
angústias;

e quantos
homens conseguem
habitar as profundidades
dos lagos,

se isto
lhes custa, por carestia
de oxigênio e de sonhos, a própria
vida?

ANGELICAIS OBSESSÕES


Soturnos anjos
descem às escondidas de seus
céus azuis

para pousarem
e me amarem em minha fria
e sombria casa:

depois de se fartarem
e gozarem, saem vestidos de branco
em cânticos de glória,

jogando-me
o peso da transgressão e do pecado
consumados em soturnos
e extáticos rituais!