terça-feira, 30 de maio de 2017

DOR SEM INTERSTÍCIO



Quando espessas
e taciturnas sombras
caem por toda
parte,

não vejo as flores
exibindo suas pétalas
aos jardins,

nem as estrelas
piscando seus faróis
aos céus;

o que não tão é ruim,
porque, em noites
assim

– ou em tempos
assim –,

somem-se também,
amedralhados,
as puritanas, os arcanjos
e os querubins,

deixando a fértil
imaginação
– em desvarios e
sofreguidões –

tão somente
a cargo do poeta
niilista.

A SOLIDÃO DO FUNDO


... dói a tua voz
presente, quando bradas a meus
desvarios com taças
___ de venenos;

dói a tua voz
ausente, quando te refugias,
para te abrigares, de minha insóbria
___ demência;

dói lentamente
tudo, tudo, tudo que invocas
para o meio de nós, em inominável tormento,
de forma assim tão
___ imensa!

SE...


... se temos
alguma possibilidade,

convém-nos
esquecer o mundo sapiens

e, mesmo
que se escureça à tarde,

devemos
eriçar as asas

para enfrentarmos
a última, monstruosa e eterna noite
que se apresenta!

O DESEJO É UMA IMANÊNCIA QUE NÃO MARCA NORTES, MAS PODE MARCAR QUEDAS


“Por que tanto julgam, exteriormente, o desejo humano, como se ele fosse um pecado capital, enquanto, de si, absolvem-se de suas  masturbações e orgias escondidas, Thor Menkent?”

Não há nenhum problema com os desejos sapiens que se nos surgem a todo momento – tão normais, tão frequentes, tão extáticos –; e não poderia ser de outra forma, posto que advêm da animalesca e natural condição nossa – mesmo que inconscientemente – de se fabricar a perpetuação da espécie.

O problema é com a mente a inventar princípios não seguidos, a estipular regras violadas e a se desvairar, em avessos, em silente cerne.

O problema é quando a obstinada razão provoca mortandades de corpos, de almas e de puerícias – sob chuvas, fomes e guerras –, enquanto, nas próprias casas, embalam os seus entes amados
com cândidos enredos e verbos.

 o problema, em suma, é quando as egocêntricas abnormidades são liberadas às elucubrações e às condenações dos demais semelhantes, enquanto se absolvem, a si mesmos, escondida e silentemente, dos supostos crimes e pecados.

ORGASMOS ÀS AVESSAS


O SILÊNCIO DO VIOLINO


... tudo foi ilusório,
___ não é?

Na verdade,
não vimos a lua como dissemos
___ que víamos,

não navegamos
juntos os mares que dissemos
___ juntos termos navegado,

não viajamos
pelas estrelas como nos dissemos
___ ter viajado,

a eternidade
não nos pertencia em conjunto
como nos demos naquela noite de luz
___ clara,

e nunca
nos amamos tanto quanto nos dissemos,
que nos permitíssimos nos livrar
___ dos demais pássaros.

QUAL FOI MEU CRIME?


... ainda me
lembro das brincadeiras
___ de criança,

havia
meninas-anjo bonitas, fantasmas
___ e palhaços medonhos;

ainda me
lembro de que, às noites frias,
tentava ficar acordado
com medo do
___ diabo.

ele parecia
___ estar para todo lado;

ainda me
lembro dos pés ao chão, do kichute
desbotado e das primeiras
___ punhetas,

elas me
deixavam tão extasiado como
___ gatinho assustado;

ainda me
lembro quando conheci monstros
de verdade, e nietzsches, e sartres, e heiddegeres,
___ e einsteins, e tantos outros,

eles todos
confirmaram o que de pior
eu, já em puerícia,
___ imaginava!

INSULTANTEMENTE BELA!



... cintilava a navalha
ao olhar,

exibia
sedução ao se destrajar,

voava
como um anjo azul
a me insultar:

trouxe-me
o cinzento e frio inverno
polar;

suportei
o deserto, o manto de horror
nele servido e a ausência
de jantares,

tu te foste
dizendo meu nome enquanto
de teus últimos
respirares!

O ICEBERG NÃO NEGA SER FRIO


Tudo pode
ser resumido, inclusive
as maiores obras e pensamento
em apenas algumas folhas
___ ou frases;

por exemplo,
quanto ao Ser, é inexoravelmente
verdade que, atrás de palavras belas
___ e leais,,

há sempre
escondidas impurezas ao cerne
___ e à alma!

UM DIA ALGUÉM DIRÁ: ELE TINHA RAZÃO


... e quem diria
que, mesmo antes de crescer,
___ ainda em pueril templo,

eu já suspeitava
que, dentro dos escuros quartos,
___ tudo é revelado,

inclusive
a libidinosidade e as sombras nunca
sob os neons da sociedade
___ demonstradas;

e que, agora
já aos 47, o niilista velho e formado,
pode com certeza afirmar:
“Tudo fora devidamente
___ comprovado!”

ÀS VEZES, É PRECISO ULTRAPASSAR OS LIMITES DO REAL


... eu lhe peço,
Senhora, que abandones cada
acorde dissidente

e que faças
segredo de tudo que lhe
ponha medo;

que o medo,
posso garantir, quando não
dominado,

costuma
suplantar o amor
e a paixão!

SEM RUMO, SIGO


... não fui
___ poeta de ilusões,

sou mais
frio e realista com o ser humano
e com suas incríveis e sublimes
___ imaginações;

sou apenas
um cão, mas eu queria saber,
se, acaso, quando
___ me desvio,

sendo válido
aos anjos fantasiarem o que
___ quiserem,

arrepiam-se
quando o cão se masturba
ou sonha, seja na poesia, na prosa
ou com seu pau
___ folião!

OLHANDO TUDO DO PÉ DO MORRO


LILITH


ASAS FLUTUANTES


... uma andorinha
do mar veio a meu jardim

e cantou
o que não podia cantar,

e contou
o que não podia contar,

e amou
o que não podia amar

(subitamente);

quando
me abaixei para apanhá-la,
contudo, consumou-se o vazio
estar!

CASTELOS DE PAPÉIS


ANTES E AGORA


Antes costumava
voar com minha fértil
___ imaginação,

hoje não tenho
capacidade maior do que tatear
figuras esparramadas
___ pelo chão;

sim, antes
era um sonho, uma fantasia,
uma esperança
___ todo dia;

hoje anseio
– entre as inexoráveis casualidades das coisas –
tão somente suas mesmas alheias
___ e silenciosas condições.

O AMOR E SUAS CONSEQUÊNCIAS


Aduba,
semeia,
e espera;

que algum
sonho
florescerá

e algum pássaro
lhe virá
pousar ao jardim;

após o quê,
quando chegar
novamente

o rigoroso
inverno,

terás de lidar
com perdas
e danos.

ATRASADO


Quão tardio
e avassalador
chegou-me
o amor

– em sublimes
sonhos
e torrenciais
chuvas –,

que me desavim
de mim;

e já nem sei
dizer

se mais me estou
a voar
em nuvens

ou a me fenecer
em branco
inverno;

e já nem sei
o que nos seja
mais:

as palavras
que virás me
dizer

ou as que
eu nunca disse
a ti.

Estão-me ajuntando
tantos destroços
aos sonhos,

que, logo,
minhas asas irão
se quebrar;

e, mesmo
quando me penso
um pouso para
descansar,

sinto-te o pálido
fulgor
dos sonhos em outros
cantos,

e o indescritível
fedor
dos gozos em outros
encantos.

Como isso
não bastasse,
ainda tenho de me dar
com o pior:

quando pouso
é que tenho de enfrentar
as severas sanções

de meus fiéis reflexos
ao espelho.

SUSSURROS II


... suspiro pensativo,
angustiantes lamentos de saudade
inflamada

(Ela
se tombou morta, pelo mesmo
que agora me come
as entrâncias!),

não há
mais esperanças de um banho
de luz mesmo de algum sonho
ou de alguma estrela
distante:

a única
que sobrou foi o frio do inverno
cortante,

secando
o resto da floresta que
ficou sem nada que se lhe possa
novamente parecer
verdejante!

SUSSURROS


... quando
te foste, sequer ouvi
teu último suspiro,

sequer
contemplei teu último
olhar à lua,

sequer
li teu último
poema esquecido na gaveta
dos fundos,

sequer
pude te prestar uma última
homenagem sepulcral
e nua,

sequer
tive tempo para construir,
para abrigo, um novo
muro de nuvens;

padecendo-me
também, mesmo vivo, neste
mundo imundo!

AMOR DESPRECAVIDO


... ou "Previmos a morte impiedosa!"

... nossa estória
ficou restada num agora
chão sem vida;

já não usas
mais teus lindos vestidos de seda,
já não te maqueias mais
como princesa,

nem te iluminas,
com aquele decote sedutor,
sob as melodias de Mozart, Tchaikovsky
ou Albione,

já não andas
mais a plantares e a colheres
flores nos jardins
das feras;

e o cão
já não te ama tocando
punhetas ou imaginando um anjo
de proveta:

restou,
como eu sempre previra
e avisara, silentes e dolorosas
lágrimas,

e o nada
de um amor descuidado,
tragado pela terra,

e mais nada!


Sinto muita saudade!

A LUA DOS ANJOS É A MESMA DOS CÃES!


O GOZO VALE O PECADO


... ou vice-versa.

... frio
e contingente, o cão
abre os braços, as palmas da mão
___ e a alma nua,

ele nunca
fala em flutuações vãs
e, silentemente, sempre espera
por um diapasão sublime
___ e diferente;

mas lhe há
um problema que foge a qualquer
lógica e mágica puramente
___ fluorescente:

ele sempre
se queda, com aquele olhar
hipnotizado e com o pau duríssimo,
diante de um lindo e escultural
___ corpo de mulher!

POR QUÊ?


Sonhos tingidos
de outonos florais,
aos cafés-concerto parecem


___ querer vazar,

entre um olhar e outro,
um regozijo e outro,
___ um elogio à alva e outro,

os peitos e os paus dos puristas
___ das letras;

enquanto fora,
há algum inverno
entre famintos que contam
apenas com seus musgos
___ e dedos.

Assim se escorrem:
de um lado os filhas da puta
que se julgam nobres
___ passageiros;

do outro,
os inválidos que são
considerados como vermes
___ sorrateiros;

e eu a gongorrar
nessa merda toda,
ansiando que não me tarde
a chegar o apagamento
___ derradeiro.

ETERNAS SENSAÇÕES QUE NÃO VOLTAM MAIS


... ela,
anjo seduzido e abandonado
___ por vários sapiens,

sempre
vinha encher seu copázio
___ vazio

ao deserto
do cão vadio e mal
___ iluminado,

como uma
florzinha ébria em busca
___ de novos naufrágios!

domingo, 28 de maio de 2017

O SAPIENS VESTE LUZES

 

Ó escuridão
protegida das retinas
e dos faróis artificiais
dos homens,

ninguém te conhece
- e ainda assim te confundem
com ominosidades
de si –

os estranhos e sublimes
veios que ora criam, ora encerram
– casuisticamente –

a tudo.

SOBRE O AMOR, ELE É OU NÃO É INDEPENDENTE DE QUALQUER COISA


Ela, domonienta,
quis fazer-se pura ao mar:
minha e de mais incontáveis mitos e lendas,
em estranhas e ominosas
fantasias,

e eu, planicento,
concebi-me chuvas e ventanias
naquele pedaço púmbleo
de vesania;

até que,
em uma noite vazia,
enquanto folheava as possibilidades
sombrias,

fiquei a refletir:
“isso tudo não me vale nem
um pequeno pedaço

de boa poesia”.

LOUR DE MENKENT

 

... percebo coisas
que jamais imaginas, Lour de Menkent,
como naquele dia ao pé da cruz
e naquele dia que dobramos,
em nossos escravos,
os anjos;

até tua alta id
e, mesmo assim teu falsos orgasmos
com o cão:

que tal
explorar um pouco também
da filosofia e da infinitudes, em vez
de comer comigo só
no chão?


Ou não. Sou um cão e me adapto aos caos, 
aos céus e às camas em igual condição!

CONTROLE LITERÁRIO É COISA PARA RETARDADOS

 

... enquanto
gozam dizendo “eu te amo”,
eu grafo “puta que
pariu”;

e, mesmo
completamente tonto,

consigo ser
mais desértico e honesto
que meus irmãos que, quando fodem,
omitem de dizer “Puta que pariu,
assim não!”

EU TÔ FODENDO PRA COISA ALGUMA!

 

... comida,
bebida,
dinheiro,
sexo,

poder,
amor,
estrela azul,
cama;

00:32
da madrugada, completamente
bêbado,

e estou pensando
se poderia dizer ou escrever
alguma coisa melhor
que são:

Ana Liss
( a única louca suficiente para me amar)
responderia de imediato:

"NÃOOOO!
Teu espelho jamais pode ser contido
por nenhuma apalavrada
revelação!"

E DAÍ?


... ainda
não vos vi mover nenhuma pedra,
que se diferencie do que
chamam (e talvez seja
mesmo)
vão!"
Thor Menkent

... sou cristão,
e como os judeus, os muçulmanos
e outros, às vezes, sou chamado de criador
e de adorador de ídolos,
___ pelos pagãos;

e o que
são esses pagãos, afinal,
se eu analisar profundamente seus cernes,
___ senão iguais irmãos,

com a única
diferença de que pensam inventar somente
virtudes e não leis e costumes
que angariam alguma
___ espiritualidade

que também
lhes é, inegável e inexoravelmente,
devido à eterna busca de algum entendimento
___ ou pensamento

sobre
a origem e o destino, que fiquem
aquém e além do vácuo
___ e sapiens vão?
É muito simples e, por demais insipiente de quem ataca aos pensamentos e religiosidades dos irmãos; mas eu afirmo que faz parte do humano, dizendo crer ou não, a imanente espiritualidade que conosco surge ao ingressarmos por estas sapiens bandas!



POUCOS OUSAM PISAR NA TERRA DE NINGUÉM

 


... ou, mais provavelmente,
enquanto somos, não nos é mais possível
pisar em terras de ninguém!"
Thor Menkent


... até
os templos, com suas ids puras
e inegáveis são denunciadas pela abnormal
condição nascente
___ do sapiens

e, a mais um
simples passo, por fortificação
do ego e porque pensamos e imaginamos
a tudo em forma
___ de imagens.

com nossa
vasta senciência abnômala
num jogo que fazemos com o lançamento
___ de nossos dados,

estamos
inexoravelmente condenados
a não mais podermos contemplar
as escuridões que nos são
___ indissociáveis.

A VERDADE SOBRE O AMOR


... o amor
não é algo democrático,
nem parlamentar, nem qualquer
coisa que se pode definir
___ com lastro,

o amor
não é algo que se sente
___ só porque é casado,

ou só porque
se vai às igrejas aos dias comuns
___ e aos sábados;

o amor
é simplesmente algo que não
se prende em nenhum laço, nem a nenhuma
___ estética bem delineada;

o amor
é, enfim, algo meio louco,
transgressor, promíscuo, egoístico
___ e macabro;

e é exatamente
por isso que Bukowiski estava certo
quando disse que o amor
___ é o cão do diabo,

mas está, como também
disse Nietzsche, por isso mesmo,
acima do bem e do mal pelo sapiens
___ imaginado!

ESTES LUSTROSOS TONS DE PRETO!

 
... já os vi
em alguma andorinha que daqui
eternamente se
foi:

gostas
de bailes a fantasias, eu sei,
Baby,

e gostas
de cavalgar cavalos alados
e paus eriçados,
eu sei;

e eu sei
também que gostas, depois,
de passar tudo isso como um brilhoso
simbologismo de algo;

mas, baby,
eu acho que tu não conseguirias
nem te convirias dançar
a noite inteira

com o cão,
de forma bizarra!




APENAS ACHAMOS QUE ESTAMOS LIVRE DELE

 


... o caos foi e é,
e nunca padeceu de nenhuma
___ forma,

nem pelo
que o sapiens pensa ver
ou se pensa ser
___ o que é;

e não há
leis, códigos, sonhos, fantasias,
entropias, quânticas ou racionalidades
quaisquer que mudam nada
___ disso:

o que há
é apenas pássaros e monarcas
que constroem seus castelos, com a falta
___ de coragem

para encararem
que estão despertos apenas quanto
ao que pensam, amam
___ ou temem

evitando,
em profunda análise, uma visão
totalmente desajustada
___ e embaçada!

INOCÊNCIA


O TALENTO E O LUGAR COMUM


... há uma diferença quase mínima entre o ser que tem talento e o ser que anda ao lugar comum.

Mínima, mas capaz de ultrapassar barreiras e de mudar as coisas sem que ninguém entenda o porquê.

Por exemplo, nem Einstein saberia explicar por que imaginou tudo aquilo sobre a dilatação do tempo andando de trem, ao observar um relógio, nem Pelé saberia explicar por quê, não tendo olhos nas costas, deu aquele passe genial, sem ver e sem perceber, para Carlos Alberto fazer o gol na copa de 70, entre outros exemplos.

Assim, o talento e o lugar comum andam juntos, sem que ninguém imagine como surge assim em decisivos segundos; mas há duas coisas certas nisso:

a) Quem ocupa o lugar comum sempre tem inveja quando vê o talento do outro brilhar, sem saberem ou se preocuparem como ele faz isso.

b) Embora também não saibam como e por que fazem, em segundos, coisas que parecem ultra-humanas e maravilhosas, só os talentosos grafam seus nomes na história da civilização sapiens!

FATAL ENGANO

 


Sou muito forte
em meus esconderijos,
cadela,

e teu maior erro
foi pensar que eu não
pudesse superar
a média

a enfrentar-te
as bipolaridades
latentes,

a condenar-te
os vôos e as alvas
do verbo,

a enterrar-te
com os vermes
à terra.

FIM ESPERADO

 


Depois de extintos
os sonhos e perdidas lúgubres
___ as esperanças,

a porta e a janela
trancaram-se com as chaves
___ dentro.

Há, ainda,
algumas poucas passarinhas
que ousam romper
o frio de meu
___ verbo,

e arrombar as entradas
proibidas, como que a quererem
descobrir-me o enlevado mistério
___ de sombras;

mas,
logo aos primeiros passos,
aprisionam-se ao chão
___ de cianureto,

e têm lenta morte
___ de asas.

POR ENQUANTO, TUDO E NADA: DEPOIS, SÓ O NADA!

 

... isso, baby,
___ eu escrevo para ti,

já é inverno
e ainda manténs a porta
___ de tua jaula fechada,

e o pássaro
sempre passa voando acima,
___ sem poder adentrá-la;

e, então,
ele voa para outros lados,
e volta e a reencontra sempre
___ trancada,

mas, no dia,
em que ele voar para o nada,
e não sobrar a ele mais
___ nada,

poderás descobrir,
tarde demais, como é viver
com essa secura interior, sem ter alguém
que realmente sabe e gosta
___ de admirá-la!

POR QUE AINDA OLHAS PARA A ESCURIDÃO QUE CONHECES?


... ando com os pés
ao chão

e com as mãos
vazias,

tenho gelado
o coração de tanta peleja
entre abstratas
ilusões,

minhas palavras
sempre se parecem demasiado
secas

e meus lábios
demasiado gelados;

mas, ainda assim,
temos um outro grande problema,
como uma pedra que agita
a água que corre,

tenho tesão
sempre a querer a carne
que te cobre os morros e as belas
curvas de teu corpo

em convulsão!

NÃO ADQUIRO UM QUILO E LEVO 900 GRAMAS!

 

... tens olhos de anjo,
tens pele de ouro,
tens beleza de heroína,

tens asas de águia,
tens sonhos de deuses sublimes,
tens tudo isso e muito mais;

eu sei,
e tens algo que eu quero
(peitos e boceta de carne),
mas só dás aos outros,

e isso
faz com que, para mim,
tudo que tenhas seja
nada!



A ÚLTIMA CHANCE

 

... não me sirvas
mais de teus tentáculos
e de tuas garras ao amanhecer
___ de uma primavera,

onde
nos acostumamos a brilhar
como uma luz
___ furiosa;

mas, se puderes
manter um só aceno, ao trem
que agora passa à monotonia da noite
___ morta,

verei teus olhos,
teus lábios, teu vestido ao vento
e já me darei por
___ contente!

NÃO PERCEBES AINDA, MAS...

 

... a vida está se esvaindo,
jazendo, pendulando entre o vento
e as imagens dos sapiens
jumentos;

já não
nos acalenta a falaz
presença

de um amor
tão pêndulo e de nossa iminente

inexistência!

SER DÓI






EU CONFESSO: MORO À BEIRA DO ERRO


... devem
estar certos os poemas que
falam de amor, de sublimidade
e de luz;

só não sei
ainda porque as sombras
se tornam tão presentes
e frias

quanto
mais o homem à perfeição,
com a volatilizada palavra,

o ser se conduz!

TAL QUAL


DE NADA ADIANTA OS ANJOS MATRACAREM

 

... se nascemos
com a id já primitiva
___ e alta,

e depois
ela se aflora em desejos
___ da carne;

não devemos
___ nos fazer de ignorantes,

mesmo
___ num sublime amor,

subestimando a tal
___ graça!

SEMPRE ENCONTRARÁS ALGO




Que de escolhas
se faz a vida, às tuas há de haver
___ uma resposta:

assim,
___ ao tempo certo,

quando atirar-te
a pedra fatal, ver-te-ei abrindo
a boca quatro ou cinco
___ vezes,

a buscares
algum ar de sobrevida,
a sentires o gosto metalizado da perda,
___ de nosso sonho

que se
esvai dobrando
a esquina, em sempiterna
___ morte.