terça-feira, 30 de maio de 2017

ATRASADO


Quão tardio
e avassalador
chegou-me
o amor

– em sublimes
sonhos
e torrenciais
chuvas –,

que me desavim
de mim;

e já nem sei
dizer

se mais me estou
a voar
em nuvens

ou a me fenecer
em branco
inverno;

e já nem sei
o que nos seja
mais:

as palavras
que virás me
dizer

ou as que
eu nunca disse
a ti.

Estão-me ajuntando
tantos destroços
aos sonhos,

que, logo,
minhas asas irão
se quebrar;

e, mesmo
quando me penso
um pouso para
descansar,

sinto-te o pálido
fulgor
dos sonhos em outros
cantos,

e o indescritível
fedor
dos gozos em outros
encantos.

Como isso
não bastasse,
ainda tenho de me dar
com o pior:

quando pouso
é que tenho de enfrentar
as severas sanções

de meus fiéis reflexos
ao espelho.

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