sábado, 7 de setembro de 2019

FOGO E CAOS


... que somos,
senão amontoados de átomos
em abnormidades variantes
e sencientes,

e que sobre nós seja,
senão violações de casualidades,
possibilidades e silêncios
inocentes?

A BELÍSSIMA PROSTÍBULA!


Nobres palavras
ressoaram de teus lábios,
sobretudo quando te postavas
perante manipuláveis
espelhos;

não obstante,
vi escorrendo de teus olhos
– que te condenaram –
mentiras em brilhos
secos.

E não é por isso
que eu deveria ter te julgado
os enredos dos verbos
e as espuriedades
das atuações

– até porque bem sei
que não é possível ao sapiens
a sublimidade plena
que ele almeja –;

mas,
se te preguei à cruz,
foi somente porque atacaste
aquele que, como tu, tem incontável
e vil pequenez
de espírito.

SEMPRE PRONTOS


Escondidas
as sombras das asas
e dos corações

e lavados
os leites e as nódoas das genitálias
e das mãos,

os pássaros
sapiens colocam-se
(tersamente)

sempre prontos
e limpos para as próximas
encenações.

FENDAS NUAS


... e todos os toques
e esfregaços excitados, e todos os abraços
e beijos molhados, e todos os leites
e lágrimas derramados,

e todas as dádivas
de amor sublimado, e todas as luminescências
regozijadas, e todas as demais perjuras
feitas com o verbo volátil;

tudo, tudo, tudo
saiu e, ao fim, retornou do mesmo ponto:
suas almas esquálidas
e esvaziadas.

VERDES CAMPOS TÚRGIDOS


... o que faz
a sublimidade dos voos
são as invisíveis
asas:

o problema
é que sempre nos imaginamos
nos haver naqueles sem,
contudo,

tomarmos
as medidas certas e concretas
para cuidar bem
destas.

RENOVAR


... é tempo
de se apagarem (definitivamente)
as luminescências
artificiais,

para tentarmos
nos renascer, separadamente,
em uma nova e sublime
imensidão.

ALÉM DE TARDE PERDIDA DE UM DOMINGO


... a mente
entorpecida pela cerveja,
pelo vinho e (das coisas) pela
incompreensão;

o corpo
encurvado, já quase prostrado,
ao ressequido
chão;

ao cd-player da sala,
Tchaikovsky toca algo que, há muito,
já não distingo muito
bem;

a alma
vigora antes de tudo isso
– lidando com sonhos, esperanças
e quedas constantes –

ao mesmo tempo
em que sempre se perde em meio
aos tantos e longos
desvãos.

REGRESSAR À NORMALIDADE


... da imensidade
esquecida, do fogo quase apagado,
dessa quase inapagável
rotina maldita.

Sim, regressar
– como as magníficas ondas –
ao grandes e vivos
mares;

calmamente,
percorrendo todo o mapa
com suas flores
e pedras:

e somente aí,
neste ponto ter a certeza absoluta para
– em um sincero “eu te amo” –
se declarar.

A MORTE DO MENSAGEIRO!


Eu voltei no tempo
e no espaço para te admiriar
puerilmente,

havia em ti
muita luz misturada
com sombras:

tu uivaste
e choveste como nunca, querendo-me
como teu anjo menino,

tua mente
adornava meus pensamentos
e minhas ilusões mais extáticas
e efervecentes.

Com minha resistência,
choveste mais e fizeste colidir-me,
com tuas mãos e com tuas loucuras
uma seringa com veneno medido
à conta para não me matar,
como dizias:

silêncio,
solidão
e dores de parto cruciantes,

vieram com o veneno
que aplicaste em minha carne,
em minhas veias e em minha alma
suicida!

E TODOS SEGUEM, SILENTES, COM SEUS SEGREDOS!


As luzes neon,
as maiores mentiras já pregadas
pelas retinas sapiens;

aos espelhos,
as mais belas, sublimes e leais
atuações ao membembe
espetáculo sapiens;

sob as nuvens
que acima passam despercebidas,
procissões e mais procissões de sapiens
pregando o bem e a boa
vontade:

aos lábios, porém,
não se ouve nenhuma confissão
de seus piores, mais aterradores, mais libidinosos
e mais hediondos segredos!

NÃO FUGIMOS DAS PEDRAS E NEM DAS CHUVAS


... para amar, como
concordo com Drumond,
em não devendo ser verbo transitivo,

deve-se ser por entre
os jardins, as flores e os espilhos que
elas contém aos caules
escondidos,

aos céus zuis,
às areias movediças e aos pantanosos
vales onde os fantasmas se abrigam
e se escondem,

na cama,
como na fama, da flama ou na lama
onde possa aparecer todo e qualquer delírio
ou desafio ao dois cúmplices
amantes!

O QUE É REALMENTE ESTE TAL DE AMOR?


... concordo
com Friedrish Nietzsche,
quando ele diz
que

“O que se
faz por amor, está
acima do bem
e do mal”;

não concordo,
entretanto com as dores
que provocam com ciúmes, possessividades
e agressividades

por vãs
elucubrações sobre o que
faz ou deixa de fazer
o ser amado.

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

SOBRE OS CAMPOS DESOLADOS


... quase
às vésperas de minha partida,
liliths e nuvens

picaram
a mula e foram embora
julgando-me como se fossem
deuses:

até que
chegou alguém andando
por entre meus
despojos,

que fez,
com sua simplicidade, ternura e luz,
com que ainda me nascesse
uma última flor
incendiária!

ENFUNADAS LUZES DE NEONN


... enfunadas
luzes de neon,

amantes
de grande sublimidade,

quando lançadas
ao desejo, deixam resíduos
de porras aos leitos,

sobre
os quais ainda dirão
amar

(com seus bestiários
humanos)

aos que ,
com eles, realmente sulcam
os arados!

OS VERMES


... as cruzes
que briham nos pescoços
das puristas, que se acham
se sangue azul

são as mesmas
que pipocam em seus peitos
quando fodem, aos escuros, com cães
e urubus!