sexta-feira, 31 de março de 2017

DESERTO 47 – LXXVIII



Sempre fui naturalmente solitário,
bem mais que o niilista que veem hoje;
pelo menos o veem – ou parte dele –
nesses poemas tortos que escrevo
por entre as imagens e as vesanias
___ de todos nós;

eu era quase que só esconderijos
com minhas alucinações tremeluzentes
e com minhas abstrações calcárias,
alheio às indomáveis e pendulantes
realidades dos pássaros
___ sapiens;

eu era assim,
incapaz de ser compreendido no silêncio
de minha loucura
___ invisível:

algo bem entre as palavras,
as imagens e as fezes de meus semelhantes;
algo bem entre as líricas alvas dos anjos
e as entenebrecidas sombras
___ dos demônios.

Sim, eu era isso sem saber
– hoje segredo que sou, tendo compreendido o porquê –,
talvez por inconsciente questão
___ de sobrevivência:

inexorável
e estrategicamente escondido
___ eu de mim.

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