sexta-feira, 31 de março de 2017

DESERTO 47 – LXXVII



Naquela noite,
ela chegou e se sentou
sem dizer uma única palavra;
na verdade, éramos ambos
silêncio: eu e ela;

e éramos mãos paradas
na ausência de afagos e carinhos,
olhos parados a se entreolharem perdidos
e sonhos parados, como que
se tivessem se congelado
à nuvem.

Talvez já não houvesse
mais nada a dizer,
talvez nos tivéssemos
tornado dois caminhos vazios
a se encontrarem
em alguma bifurcação
noturna,

talvez nos fosse
a hora de partir e de seguir viajantes,
entre outros sonhos e quedas
do mundo.

Sim, talvez,
mas eu não conseguia sair,
e ela não tinha forças para partir,
e isso foi o mais próximo
que já senti

do chamam de amor

por aí.

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