segunda-feira, 27 de março de 2017

DESERTO 47 – XX



Não amo,
nem sou capaz
de amar

– embora seja
um insensato cão
com vesanias
à mente –

a flores
com pétalas de egos
esfuziantes,

nem a pássaros
com regozijos de asas
letradas,

tampouco a santas
com segredos degradados
sob alvos véus;

a esses, há muito,
decidi apenas
mostrar-lhes os reflexos,
em minhas sombras
calcinadas;

eu amo é o vento,
que corre descobiçoso
pela planície,

e a simplicidade
de quem nele
se arrisca a voar,

sem a exacerbada
necessidade

palavras.

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