terça-feira, 17 de março de 2015

A VOZ DO PROFETA


À sala de espera
daquele iluminadíssimo paraíso,
era feita uma conferência muito séria
pelo profeta que pregara
sobre a vaidade;

e isso decidiria
quem entraria ali ou quem teria de apresentar
seu recurso ao diabo.

Para verificar presença
decidiram fazer uma chamada pelo adjetivo,
a fim de salvarem (de uma vez só)
a milhões de fiéis
presentes:

chamaram
por nobre, e vários apareceram;
chamaram por honesto,
e vários apareceram;

chamaram
por caridoso, e vários apareceram,
chamaram por bondoso,
e vários apareceram;

e assim foi sendo feito
 (sempre pelos bons adjetivos),
até que só restou um ali, em meio a tantas
luminescências escancaradas.

Então se dirigiiu a ele
 o profeta das vaidades, em alto
e bom tom: “Porque não respondeu a nenhuma
das chamadas?”,

ao que o niilista
retrucou: “Mas não ouvi sendo chamado,
não me foi proferido um adjetivo
totalmente adequado”.

Intrigado,
perguntou-lhe o profeta:
“E qual seria um adjetivo, pelo menos,
razoavelmente compatível
com você?”;

não titubeou o niilista:
“Por abnormal condição, somos tão
nitentiados como espúrios
e dissimulados”.

Imediatamente,
toda a antesala do céu estremeceu,
como que se aquelas palavras
fossem bombas alicerceiras:

“Indigno!
Negregado!
Infiel!

Está interdido de tudo que reluza,
está exconjurado ao inferno por toda a eternidade,
pois a casa de Deus não admite
tais turvas proferências!”;

E o niilsta,
incapaz de proferir mais coisa qualquer
(emudecido que estava pelo
castigo imediato),

ficou a pensar:
“Será que,  ao outro reino,
além do sofrimento cruciante e inesgotável,
há também tamanha egolatria
e vaidade?”

Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)

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