quinta-feira, 5 de julho de 2018

SILENTE MADRUGADA


Próximo aos 45,
como já não fazia há muito tempo,
levantei-me de minha insônia
e me fui a caminhar pela silente madrugada,
à avenida sombriamente deserta,

tal como quando era uma criança
que, entretida em caçar passarinhos com seu bodoque,
perdeu-se na mata escura,
com a impressão de que havia um monstro
ou um demônio a lhe perseguir,

tal como naquela ocasião
pelejei contra a maldita visagem
em angustiosa correria que não parecia
ter mais fim;

temi, apavorei-me e quis
correr, fugir, ter um par de braços a me abrigar,
ou uma mão que seja para tocar
e me resgatarem o mais breve
possível

– mas não olhos, olhos não,
nem semblantes, semblantes não,
que todos os olhares e todos os rostos
seriam demoníacos naquele,

mas, depois de um tempo,
extremamente cansado, esquálido e ébrio de sentidos,
olhei para todos os lados
por entres as casas, as esquinas e os vultos
fabricados pelas luzes
de neon,

e percebi novamente
que eram tão somente meus terríveis fantasmas
que sempre me acompanharam
deste quando me habitava
em puro templo.

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