quarta-feira, 26 de julho de 2017

OS FANTASMAS



Pediram-me para que lhes mostrasse onde há vida, para que pudessem se deleitar com seus egos incautos; e lhes mostrei suas inconscientes mortes.

Pediram-me para lhes pintar um céu límpido para que o contemplassem de seus soluços terrenos; e lhes expus suas nuvens entenebrecidas.

Pediram-me que lhes cantasse suaves melodias para lhes acalentar medos na escuridão de suas noites; e lhes mostrei suas cruciantes cantigas de lamentos.

Pediram-me para lhes conceber um arrebol de amor cândido para que se deitassem com suas superficialidades airosas; e lhes mostrei suas espuriedades intrínsecas.

Pediram-me para crer em suas realizações inconspurcadas, para que tivessem uma trégua de minhas chuvas escumadas; e lhes mostrei punhais afiados em suas mãos.

Pediram-me para apontar algum abrigo seguro onde pudessem repousar seus cansaços sôfregos; e lhes mostrei suas ilusões tênues a caminho do abismo.


Pediram-me sobriedade em meus sentimentos alocutórios para lhes atenuar a sede insaciável por uma visão impermista; e lhes mostrei mentiras silentes em seus sorrisos perversos.

Pediram-me que me atentasse a suas candidezes de momentos anteriores para que pudessem ser perdoados em seus presentes tórridos; e lhes mostrei lembranças brancas em suas semeaduras de angústias.

Pediram-me que lhes desse uma face genuína, para que cressem em minhas palavras de dor; e lhes mostrei suas máscaras desvanecidas em reflexos oportunos.

Pediram-me para contemplar suas essências nobres, para se apaziguarem de seus labirintos escusos; e lhes mostrei que se metamorfoseiam na relva infausta.

Pediram-me para acalentar seus sonhos inexequiveis, para que pudessem voar como águias envilecidas; e lhes arranquei as asas da imaginação, evidenciando suas plumas delicadas.

Pediram-me para lhes alimentar a crença num paraíso idílico, para que se abrigassem nos braços de um pai que lhes aliviasse de suas angústias; e eu lhes mostrei o frio apagamento que lhes aguarda.

Então, em autopreservações de seus vultos pálidos, escudeados de meu ser amaldiçoado e tomados de iras e de rancores incontidos por meus jugos, em vez de pedirem, sentenciaram-me ao deserto frio; e os abandonei na ilusão de suas frívolas vivências exteriores.

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