segunda-feira, 31 de julho de 2017

DO EGO - CAPÍTULO DE UMA AUTOBIOGRAFIA INACABADA



Adormecido eu sob a visão estreita do que continham os falantes professores com seus boletins e livros, incapaz de apreender do que dispunham em suas cátedras frágeis. Incapazes eles e todos de apreenderem do que eu secretamente me transformava.

Havia ali tantos monstros que era possível algum avanço por entre o que arrotavam despercebidamente. Haveria de aprender não o ensinado, mas também sobre os mitos falsificados que vestiam branco, em poses cavalheirescas. Haveria de tentar visualizar neles o que tentava manter invisível. Estaria eu preparado para tal escolha? Feita. E de feita, germinaram as consequências.

Entre todos os observados despercebidos, a diretora não arrotava muito. Era-me, de fato, um ser estranho. A obesidade escondia um silêncio que me intensificava a vontade de entrar, o que não foi difícil. Já me habituara em espraiar minhas insalubridades verborrágicas.
- Escolha de ratos, medíocres doutores que pensam ensinar alguma coisa, mal sabendo de si mesmos. Filhas da puta!

Talvez poucos a tenham visto além daquela obesidade mórbida. Mas eu vi um canibalismo que me aliviou das penas a mim mesmo impostas: Com a frieza da postura e o olhar sombrio mostrou em suas ações a resposta a minhas incursões ao gabinete. Agradava-me descortinar . a confraternização dos ilustres mestres, que tentavam moldar, às suas dissemelhanças os templos que desabrochavam.

Ouvidos atentos ao que já havia efluído silente à mente alucinada. Nenhuma descoberta. Estupros aos próprios ensinamentos surgiam verbalizados de suas entranhas. O cão da escola passou a ser visitante comum, sem que percebessem que deles se alimentava além da bela casca que os envolvia.

A pupila da obesa extravasou em reação à ação do pequeno cão raivoso com seu filho por uma disputa qualquer, antes da marcha da independência, feita todos os anos pelas ruas da cidade. Impossível não ver o cerne daquele dragão que cuspia e aprender sobre a inevitabilidade da ira daquela gente estranha.

Meninos não têm tanta maldade: a primeira lição, à qual saboreei silenciosamente depois, de frente ao mundo que eu queria compreender. Esbravejou e espancou sob os olhares de seus comuns.

O espancamento foi aceito em meio ao medo que aprenderia a controlar posteriormente, assim como a exposição obrigatória em frente ao pelotão, humilhado, sem que ela percebesse que também alimentava a força interna que tentaria consumir o mundo em seus secretos esconderijos, e que disso enfrentaria os gigantes do porvir.

E tantos e de tantas formas que nada mais, nada menos a olhar do que apenas sentir o rio com destroços que foram alimentando um poder sombrio que devoraria da própria carne, cuspindo nas redondezas.

Ferro e fogo. Mentalmente invisível em todas as suas composições. Crescia o monstro assim. Haveria a hora certa de engolir moscas, já premeditado pela mente ainda não ampla para absorver o conjunto, mas tão somente as partes dele. E não tardaria que viesse a fatalidade: confrontaria gigantes e pairaria, certo ou não, sobre eles.

Fortalecia-se o ego quanto mais me abrigava em meus esconderijos. Poder-se-iam saber o quanto praguejei ou amei? Ou como se constituí as cousas somente para meu agrado ou um lugar onde expurgar entranhas?


Do ego fortalecido a vontade de violar. De sobrepor-se. Filosoficamente ruminava em busca de conhecimentos para ter um olhar panorâmico. O ego do monstro, outrora mascarado, começava a se sobrepor em leituras diversificadas e ainda não compreendidas pelos que se sentiam preparados.

A comunialidade não atraía. A visão devia estar em pontos diferentes e horizontes vastos. A Cosmologia foi o primeiro porte. Seguiram-se as ciências e a matemática. A língua-mãe de certo deveria ser dominada também tão somente para desmascarar letrados. A filosofia veio mais tarde e contendo meus maiores opositores. A fé teve seu ápice para morrer em seguida, como tudo no qualquer em que me transformava.

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