A tempestade que me assola e desnuda meu ser,
em chuvas contínuas de dor e de descrença em tudo, revela a frágil existência
do ser mortal, imoral, que ainda ousa voar, quedado sob o escarro do mundo.
A quanto tempo já não vejo o sol acender sua ira,e Em raios que fulminam a morte e escondem as sombras, trazendo à luz a essência de uma vida ilusória?
Sem remorsos, é nas sombras que me movo em fúnebre morada.
Vermes miseráveis, rastejantes seres sois também vós. Comeis e bebeis das vísceras de vossos semelhantes!
É à luz que escondeis, teatralmente, vossos paradoxos, em sombras das quais surgistes para atuar no palco iluminado: silenciosas lâminas, infernais garras, prontas para o golpe fatal.
E quem do mundo enevoado e obscuro, como vós próprios, será a próxima refeição: um ser andante qualquer sem rosto, o O melhor amigo ou a amada a quem perjurais lealdade e fidelidade?
Devoradores, pragas, insetos humanizados de razão, tornai-vos mais insaciáveis que o próprio demônio, pelo vivo sangue e pelo corpo vil, em injúria a vosso deus, pPor vós mesmos, e para vosso refúgio, inventado insanamente, oO qual agora apenas se contorce em gritos silenciosos e tristes.
E eu, serena, fria e incompreendida bactéria tetânica, nego as vossas ilusões e todas as vossas esperanças mortas.
Pior que vós me torno. Sou a sombra que persegue e devora, que convida ao pecado, e abro as cortinas do espetáculo, em pleno reinado da luz onde vos escondeis!

Nenhum comentário:
Postar um comentário