quarta-feira, 26 de abril de 2017

RAZÃO E LOUCURA



Pelos jardins das glicíniase das insânias, as seivas e os sonhos atingem os vazios dos ventos e das procelas,extasiando-os com as vertigens das gentes e das coisas estranhas.

Os girassóis, por exemplo, que se aprumam na frente de todo mundo, são renegados como obscenos pelas flores, as quais ficam ali, paradas, com seus botões discretamente abertos,só esperando pelas entradas, disfarçadas, das abelhas em seus melados ocos.

Os marimbondos são ainda mais tolos: vestem-se negramente e carregam, à bunda, uma afiada agulha que é um perigo, por isso são desdenhados e temidos elas virgens que voam com os pássaros.

Ah, os pássaros! Esses são muitíssimo espertos, vestem-se de alegrias coloridas, e o melhor de tudo: cantam deixando-as loucas.

À noite, pelas sombras soturnas, há uma algazarra infernal da bicharada em busca de algumas meterolas escondidas.

Os grilos, as cigarras e os sapos não fecham a boca a procurarem alguma raxinha disponível; os pirilampos ficam piscando seus faróis,
parecendo viados, à procura de algum pau de luz, onde acabam morrendo queimados.

Mas, entre todos, quem mais me intriga são os vermes. Não. não penseis vós que sejam essas lombriguinhas que ficam mendigando migalhas sob a terra ou aos intestinos dos outros bichos.

Falo dos vermes neandertais: esses, sim, são tudo – e a razão desse texto existir é que também sou deles um –, e iguais a eles nem os passarinhos mais sublimes, nem os marimbondos mais venenosos.

Eles escondem, dissimuladamente, brumas com fluorescências de neon, vestem-se de carnes de sonhos e de insânias, e comem de tudo que houver com suas famintas senciências, a qualquer hora do dia ou da noite e em qualquer lugar que se possa imaginar.

Por isso andam cada vez mais obesos, pilotando asas em direção a infinitos, e inaugurando tudo que querem com suas hastes em fogo, ou com suas vesanias em lodo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário