sexta-feira, 28 de abril de 2017

ENTRE A CARNE E O MITO



Dizem que talvez
eu pudesse até ser um filósofo
ou um poeta mediano
a manejar melhor o verbo
e a fantasia,

se parasse
de remover lixos
e de falar mal do Ser,
– ser? –.

Bem,
depois que as coisas
começam a não fazer mais sentido,
não há mais sentido,
e nem o “Ser” pode mais
fazer com que peguem
algum sentido;

porque aí
– ao tentarem fazer com que peguem
algum sentido –
estamos exatamente
a eliminar qualquer possibilidade
de acerto,
estamos exatamente
a comprovar a espuriedade
de nossos eus.

Resumindo,
que os filósofos, poetas
e anjos se fodam
com suas belas e puras
premissas,

porque todos nós
nos fodemos de todo jeito
devido a nossas insanáveis e paradoxais
abnomidades.

Mas devo dizer que,
embora meu verbo seja, de fato,
navalhadamente ruim,
caríssimos irmãos,

e embora fale de vós
com vossos faróis obesos,
na verdade, acho muito mais repugnante
quando estou sozinho
comigo mesmo.

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