Adormecido
eu sob a visão estreita do que continham os falantes professores com seus
boletins e livros, incapaz de apreender do que dispunham em suas cátedras
frágeis. Incapazes eles e todos de apreenderem do que eu secretamente me
transformava.
Havia ali tantos monstros que era possível algum avanço por entre o que
arrotavam despercebidamente. Haveria de aprender não o ensinado, mas também
sobre os mitos falsificados que vestiam branco, em poses cavalheirescas.
Haveria de tentar visualizar neles o que tentava manter invisível. Estaria eu
preparado para tal escolha? Feita. E de feita, germinaram as consequências.
Entre todos os observados despercebidos, a diretora não arrotava muito. Era-me,
de fato, um ser estranho. A obesidade escondia um silêncio que me intensificava
a vontade de entrar, o que não foi difícil. Já me habituara em espraiar minhas
insalubridades verborrágicas.
- Escolha de ratos, medíocres doutores que pensam ensinar alguma coisa, mal
sabendo de si mesmos. Filhas da puta!
Talvez poucos a tenham visto além daquela obesidade mórbida. Mas eu vi um
canibalismo que me aliviou das penas a mim mesmo impostas: Com a frieza da
postura e o olhar sombrio mostrou em suas ações a resposta a minhas incursões
ao gabinete. Agradava-me descortinar . a confraternização dos ilustres mestres,
que tentavam moldar, às suas dissemelhanças os templos que desabrochavam.
Ouvidos atentos ao que já havia efluído silente à mente alucinada. Nenhuma
descoberta. Estupros aos próprios ensinamentos surgiam verbalizados de suas
entranhas. O cão da escola passou a ser visitante comum, sem que percebessem
que deles se alimentava além da bela casca que os envolvia.
A pupila da obesa extravasou em reação à ação do pequeno cão raivoso com seu
filho por uma disputa qualquer, antes da marcha da independência, feita todos
os anos pelas ruas da cidade. Impossível não ver o cerne daquele dragão que
cuspia e aprender sobre a inevitabilidade da ira daquela gente estranha.
Meninos não têm tanta maldade: a primeira lição, à qual saboreei
silenciosamente depois, de frente ao mundo que eu queria compreender.
Esbravejou e espancou sob os olhares de seus comuns.
O espancamento foi aceito em meio ao medo que aprenderia a controlar
posteriormente, assim como a exposição obrigatória em frente ao pelotão,
humilhado, sem que ela percebesse que também alimentava a força interna que
tentaria consumir o mundo em seus secretos esconderijos, e que disso
enfrentaria os gigantes do porvir.
E tantos e de tantas formas que nada mais, nada menos a olhar do que apenas
sentir o rio com destroços que foram alimentando um poder sombrio que devoraria
da própria carne, cuspindo nas redondezas.
Ferro e fogo. Mentalmente invisível em todas as suas composições. Crescia o
monstro assim. Haveria a hora certa de engolir moscas, já premeditado pela
mente ainda não ampla para absorver o conjunto, mas tão somente as partes dele.
E não tardaria que viesse a fatalidade: confrontaria gigantes e pairaria, certo
ou não, sobre eles.
Fortalecia-se o ego quanto mais me abrigava em meus esconderijos. Poder-se-iam
saber o quanto praguejei ou amei? Ou como se constituí as cousas somente para
meu agrado ou um lugar onde expurgar entranhas?
Do ego fortalecido a vontade de violar. De sobrepor-se. Filosoficamente
ruminava em busca de conhecimentos para ter um olhar panorâmico. O ego do
monstro, outrora mascarado, começava a se sobrepor em leituras diversificadas e
ainda não compreendidas pelos que se sentiam preparados.
A comunialidade não atraía. A visão devia estar em pontos diferentes e
horizontes vastos. A Cosmologia foi o primeiro porte. Seguiram-se as ciências e
a matemática. A língua-mãe de certo deveria ser dominada também tão somente
para desmascarar letrados. A filosofia veio mais tarde e contendo meus maiores
opositores. A fé teve seu ápice para morrer em seguida, como tudo no qualquer
em que me transformava.