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terça-feira, 26 de dezembro de 2017
O FIM DO HORIZONTE
Quase anoitecendo,
há cinzas ao chão das chamas apagadas
no dorso do pássaro
moribundo;
levanto-me todos os dias,
barbeio-me ou não, masturbo-me ou não,
sorrio ou não,
praguejo ou silencio,
caminho pelas avenidas
das árvores excelsas
dos verbos
e pelos jardins
das flores vestidas
de cetim,
nesse mesmo quase
anoitecer;
às vezes,
ainda aparece alguma
ave desgarrada querendo decifrar
o quebra-cabeças e acender o farol
com suas asas
oníricas;
mas até entendo:
é que ela ainda não
sentiu as dores
do infarto,
senão me ofertaria
somente o corpo cálido,
ao som de Mozart em minha silente
e angustiante
sina;
à qual
já não sonho mais.
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