De manhã,
tive de lidar com canarinhos e bem-te-vis
que cantavam com extrema soberbia
à minha janela.
À tarde,
as coisas pioraram
um pouco:
marimbondos, urubus
e insetos invadiram o jardim
das primícias,
onde eu tentava
plantar, junto às flores do outono,
meus tentilhões
eriçados.
À noite
– houvesse,
talvez eu ganhasse
algum prêmio entre os mais
solitários e angustiosos
sapiens –,
num banho morno,
deixo escorrer-me o barro
e, ainda semimolhado à cama
prostrado,
ajeito o travesseiro,
aliso os lençóis, e ela, que me conhece
as curvas mais delicadas. os pensamentos mais
degredados e os sonhos mais
extáticos,
e ela,
que, dentre todos,
é a única que sabe que eu lhe
retorno todas
as noites,
suspira ao zelar-me
o sono da madrugada
e ao amar-me, silente e sem segredos,
o corpo excitado e a alma
machucada.
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