segunda-feira, 10 de julho de 2017

O FIM DO HORIZONTE



Quase anoitecendo,
há cinzas ao chão das chamas apagadas
no dorso do pássaro
moribundo;

levanto-me todos os dias,
barbeio-me ou não, masturbo-me ou não,
sorrio ou não,

praguejo ou silencio,
caminho pelas avenidas
das árvores excelsas
dos verbos

e pelos jardins
das flores vestidas
de cetim,

nesse mesmo quase
anoitecer;

às vezes,
ainda aparece alguma
ave desgarrada querendo decifrar
o quebra-cabeças e acender o farol
com suas asas
oníricas;

mas até entendo:
é que ela ainda não
sentiu as dores
do infarto,

senão me ofertaria
somente o corpo cálido,
ao som de Tchaikovsky,
em minha silente
madrugada;

à qual
já não sonho mais.

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